Nirvana
Coisas e Coisas

Nirvana



As luzes piscavam alucinadamente e eu, parado no meio da pista, tentava entender como havia chego até ali. As pessoas a minha volta pareciam envolvidas em um transe. Esse mesmo transe que, talvez, eu tenha estado até esse momento. A musica vibrava junto com a luz. Uma perfeita conexão entre cores, sombras, volumes, lasers, fumaça e suor. Uma complexa combinação de desejos e tecnologia. O mundo havia entrado em um permanente estado de slow motion. Todos se moviam em câmera lenta enquanto o universo expandia-se como uma luz estroboscópica. Veloz e pontual 

A pior parte de recobrar a consciência é entrar, mesmo que por poucos minutos, em um estado de ignorância quase absoluta. Você reconhece as coisas por si só, mas não tem condições de construir o contexto. É mais ou menos quando você está lendo em outra língua, que não seja a sua. Você reconhece facilmente as letras, forma palavras e une frases simples. Mas chegar ao entendimento do texto parece uma tarefa, algumas vezes, impossível. Então, você se percebe gastando uma quantidade imensa de energia para fazer algo que, normalmente, você faz quase sem pensar 

Não pensar. Essa era a intenção. Não era? Esse desejo de não pensar foi o que te trouxe até esse lugar. Até esse momento de consciência fora de contexto. Até essa  sensação de estar descolado da realidade in slow motion way. Não pensar. Liberar o corpo e o cérebro dessa obrigação insuportável de ter uma opinião sobre tudo. Não pensar. Não se prender à busca de significado em ações de outras pessoas. Não se meter em discussões ridículas sobre assuntos ridículos. Não pensar. A ignorância absoluta sobre tudo e todos. Esse nirvana inconsequente e libertador. Não pensar. Esquecer. Perder-se. Soltar-se dentro do tempo. Sem limites e sem parâmetros. Não pensar. Não saber. Não ser. Não existir. Um desejo totalmente niilista de não existência. Sem nenhum desejo de que isso se transforme em outra coisa. Não. Simplesmente a possibilidade de não-ser. Maior do que a morte em si. Como se fosse possível retirar-se completamente da existência sem deixar nenhum rastro. Mínimo que seja

Não pensar. Não pensar. Não pensar. Repita, como um mantra

Eu continuo parado no meio da pista. Não. Ninguém está me olhando. Ninguém percebe minha total falta de adaptação àquele momento. Ninguém se dá conta de nada. Estão todos absorvidos pelos seus movimentos coreográficos. Por suas percepções sobre as luzes. Sobre o tempo. Sobre a música e a fumaça. São todos velozes. Tão velozes e tão intensos que não conseguem perceber alguém que pára e olha. Tão velozes e tão ocupados. Tão velozes e tão absortos de si mesmo. Outro tipo de nirvana

A melhor coisa de recobrar a consciência é ver. Claramente. Mesmo que por poucos segundos. A realidade tornar-se aparente. Enxergar o mundo feito de várias camadas. Perceber a sobreposição de sentidos. Os desejos sendo esmagados pelas ações. As pulsões. O inconsciente emergindo como um fantasma sobre esses corpos que dançam. Avatares de um game feito de carne e osso. Bonecos voodoo movendo-se sem perceberem as agulhas empurrando suas dores para lugares profundos e inesquecíveis

Não pensar. Não pensar. Não pensar. Repita, como um mantra

Não pensar. Não era essa a intenção? Que tipo de droga será necessário para conseguir atingir esse tal nirvana de que tanto falam? Qe tipo de dor é essa que te faz imune a felicidade? Como foi que você chegou até esse momento? Quem são essas pessoas que dançam contigo? Por que essa mulher toca no teu ombro? Por que só agora você se deu conta de que alguém te toca no ombro? Por que estão todos dançando? Por que teus olhos estão costurados? Por que você não consegue se mover? Fazer algo. Por que você não consegue fazer algo, mesmo sabendo que é necessário fazer algo? Por que você não se move? Sair desse lugar. Encontrar outras pessoas. Encontrar outras dores. Outra combinação de desejos e tecnologia. Outras combinações. I can be somebody

Não pensar. Não pensar. Não pensar. Repita, como um mantra

Mover-se

É necessário mover-se. Ou render-se

Sair daí. Dançar aí. Romper com esse nirvana obscuro que te promete iluminação e te entrega falta de sentido. Parar de juntar letras, palavras e frases e começar a construir uma história. Vamos lá. Você consegue. Repita comigo. Repita consigo mesmo. I can be somebody. I can be somebody. I can be somebody

Respire

Pela última vez, respire - ela diz. Com uma mão ela segura seu ombro. Com a outra ela toma seu cérebro e espalha pelo espaço. São milhares de luzes saindo de sua cabeça e vagando pelo universo. Você está tão concentrado nas luzes que nem percebe que seu corpo não está parado como imagina. Na verdade, seus joelhos já começaram a dobrar-se. Em alguns segundos você estará caído. Jogado no chão. Inerte. Enquanto você segue seus pensamentos em busca de respostas, ela te segura pelo ombro e te indica o caminho de saída. Ela costura os teus olhos e faz o encerramento silencioso dos teus passos de dança. Segura teu ombro e agora aperta teu coração. Diminui o ritmo. Te oferece descanso

Não pensar
Não pensar 
Não pensar

Repita, como um mantra





loading...

- Padrões Gerais Nacionais
Eu tava conversando com o francês gente-boa outro dia. Não lembro o nome dele, mas ele é chegado da galera e já foi no Brasil, diz que o melhor amigo dele é brasileiro e tal. Sem dúvida ele conhece um pouco da nossa cultura. Ele morou também nos...

- Início Meio Fim
- Por que não uma história?- Oi?- Por que não uma história? Assim, normalzinha...com início, meio e fim...- Ahh, não sei...- Não sabe o quê? Escrever uma história assim? Ou você simplesmente não gosta? Acha careta?- Não acho careta.-...

-
Um daqueles momentos em que não se sabe para onde está indoApenas a sensação da maré... Água movendo-se sob você...Vida movendo-se em slow motion O mundo parado ao seu redorVocê parado ao redor do mundo É sempre mais fácil contar uma história...

- Last Minutes
Organiza os pensamentos Vai, organiza essa porra Vai... Esquece o ruído esquece a mão tremendo respira Respira, porra! respira Vocês tão sentindo frio? Concentra concentra!!! Vocês também tão sentindo o frio? Esquece a batida no quadril Sente...

- Fuga!
Você não poderia saber... Nunca... Quanto te amei, foi em silêncio. Foi... Você não poderia saber... Afinal... Nós nem nos conhecíamos. Nunca... Você não poderia saber... Óbvio... Quando eu vivia, tu não existias. Ainda... Você não poderia...



Coisas e Coisas








.