Padrões gerais nacionais
Coisas e Coisas

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Eu tava conversando com o francês gente-boa outro dia. Não lembro o nome dele, mas ele é chegado da galera e já foi no Brasil, diz que o melhor amigo dele é brasileiro e tal. Sem dúvida ele conhece um pouco da nossa cultura. Ele morou também nos EUA e é mais ou menos viajado. Mais do que tudo, ele é francês e conhece muito bem os franceses. Ele professou sua opinião sobre o francês que eu achei muito apropriada.

O francês é um sujeito que pensa demais. Dá pra colocar também o europeu (em geral) nessa sacola. O fato de uma pessoa pensar demais sobre as outras pessoas e sobre suas atitudes tem um lado bom, mas tem também o lado ruim, que é esquecer das coisas simples, pensar que se pode encontrar padrões em eventos que são na verdade aleatórios e complicar o que não tem nenhum problema. Lembro daquele ditado e acho que se aplica aos franceses: eles às vezes encontram chifre em cabeça de cavalo.

Tudo que você faz na França, você tem que pensar o que os outros vão pensar dessa coisa. Bem, eu não sou assim, mas os franceses são. É preciso evitar qualquer coisa que dê dupla interpretação ou que alguém possa levar a mal. Todos tomam cuidado em rodas sociais, mesmo nas mais extrovertidas, em meio à grama, sob o sol, um piquenique. Qualquer mínimo sinal de patriotismo, como por exemplo sair com a camisa do Brasil, ou coisa do gênero, pode fazê-los pensar que você é do tipo autoritário, xenofóbico ou mesmo nazista. O tal francês me contou que estava no Brasil assistindo o show de uma banda colombiana e que o cantor balançou a bandeira do seu país no fim do show e foi ovacionado pela galera. Na França eles pensariam que o cara seria colombi-nazi e teriam, talvez, enchido o sujeito de ovos -- se os tivessem para jogar. Talvez esse comportamento seja originado de uma sociedade que é bastante diferenciada desde os primórdios e precisa respeitar a cultura alheia. Viaja-se menos de 50Km na Europa por vezes e já se têm pessoas muito diferentes. É preciso respeitá-las e respeita-se, mas sempre observa-se, estereotipa-se e fica-se com o pé atrás. Coisa de nossa natureza humana, talvez. A diferença pode estar mesmo no fato de tanta gente de origem cultural diferente viver tão próxima, sei lá.

Enfim, para fazer qualquer coisa aqui é preciso pensar bem por si mesmo e também imaginar o que toda a gama de esquisitos que andam por aí pensarão de você. Se você leva um vinho pra festa, tem que pensar se alguém vai poder achar que esse vinho é ruim e você pode sempre cometer uma gafe. Eles estão sempre preocupados em não cometerem gafes. Se você sai com camisa de marca é porque deve ser capitalista, se você gosta de futebol, provavelmente é bastante ignorante... essas coisas. Eles podem ter até razão às vezes, mas tendem a estereotipar demais a galera por atos e situações que às vezes são um tanto quanto aleatórias. O brasileiro, como disse meu amigo francês, é mais simples e natural. Fazemos simplesmente o que temos vontade e não ficamos enquadrando ou racionalizando demais coisas corriqueiras que vão e vêm. Talvez os europeus identifiquem padrões mais cedo e com mais precisão do que os brasileiros, mas isso vem ao custo de estar sempre numa paranóia de buscá-los em todo lugar. Não sei se vale a pena. Dá a impressão que vemos as coisas de uma forma mais holista... é preciso ainda pensar mais sobre essa teoria, mas pode sair alguma coisa interessante daí.

Enfim, bom mesmo é ser brasileiro. Você chega lá, faz o que quer e depois diz que a sua cultura que é diferente e tal. Tenho a impressão também que alguns europeus que já conviveram com brasileiros conhecem bem essa nossa simplicidade e a admiram de alguma forma. A italiana aqui do lab, por exemplo, está sempre me mostrando alguma música ou falando alguma coisa aleatória comigo com muito mais desenvoltura do que faz com os franceses. Brasileiro é gente-boa mesmo, o esquema é esse. E pensar demais, quem diria, pode dar no pino... ah, o que não faz a falta de problemas sociais.



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