Uma equipe de cientistas induziu experiências "fora do corpo" em pessoas sadias com a ajuda de óculos de realidade virtual que confundiram os sinais enviados ao cérebro, segundo um artigo publicado pela revista "Science".
As "experiências fora do corpo", que muitos cientistas consideram produto da imaginação e para outros são indício de transtornos mentais, ocorrem quando uma pessoa em estado de vigília percebe que observa seu corpo de um lugar fora dele. Há relatos de experiências desse tipo em condições clínicas que perturbam o funcionamento normal do cérebro. É o caso de infartos, ataques epilépticos parciais, abuso de drogas e experiências traumáticas, como em acidentes. Segundo a revista Science, cerca de uma de cada 10 pessoas alega ter passado por uma experiência extracorpórea em algum momento de suas vidas. Na literatura esotérica, as referências a essas experiências são chamadas de "projeção astral". Em anos recentes, porém, diversas experiências mostraram que o fenômeno pode ser induzido pelo estímulo de certas áreas do cérebro. Freqüentemente as experiências fora do corpo se começam com um sonho lúcido. As pessoas relatam ter experimentado a sensação enquanto estavam dormindo, adormecendo ou acordando. Numa alta percentagem, a situação descrita é uma em que o sonho não era particularmente profundo, devido a doença, ruídos, estresse emocional, cansaço, ou interrupções freqüentes. Na maioria dos casos as pessoas contaram que sentiam que estavam acordando. Aproximadamente a metade informou que sentia uma paralisia. H. Henrik Ehrsson, do Departamento de Neurociências Clínicas do Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia), afirmou no artigo da revista "Science" que "a experiência ilusória pode ser induzida em participantes sadios". Segundo Ehrsson, o fenômeno é "uma ilusão perceptiva na qual os indivíduos experimentam que seu centro de consciência, ou seu 'eu', está situado fora de seus corpos físicos, e que olham para seus corpos do ponto de vista de outra pessoa". "Esta ilusão demonstra que o sentido de 'ser' localizado dentro do corpo físico pode estar determinado plenamente por processos perceptivos, isto é pela perspectiva visual junto com o estímulo multi-sensorial do corpo", acrescentou. Nas experiências, Ehrsson e seus colegas do Centro Wellcome Trust de Neuroimaen, no Instituto de Neurologia de Londres, usaram câmeras de vídeo e óculos de realidade virtual. Doze voluntários assistiram a imagens de seus próprios corpos, da perspectiva de alguém sentado atrás deles e com uma visão estereoscópica. Um cientista se manteve parado ao lado do participante e dentro de seu campo visual, e utilizou duas varinhas de plástico para tocar simultaneamente o peito real da pessoa e o peito do "corpo ilusório". A segunda varinha era movimentada para o lugar onde a ilusão ficaria, fora da visão das câmeras. O esquema criou, pela primeira vez em laboratório, a ilusão de que os voluntários podiam sentir seus corpos virtuais. "Após dois minutos de estímulo, pedimos aos participantes que completassem um questionário no qual tinham que afirmar ou negar 10 possíveis efeitos perceptivos", explicou Ehrsson. Os voluntários não só perceberam que viam a si mesmos de fora de seus corpos, mas também sentiram que seu corpo real era tocado. Ehrsson e sua equipe destacaram a importância dos estudos, que tentam explicar a natureza das experiências extracorporais, até agora sem uma explicação científica. "Não existia antes uma forma de induzir uma experiência extracorporal em pessoas saudáveis, a não ser nos relatórios sem fundamentos da literatura esotérica. É uma descoberta apaixonante e com repercussões em várias disciplinas, da neurociência à teologia", concluiu.