Uma pesquisa realizada no Canadá revelou que jogar videogame antes de dormir pode dar às pessoas um nível incomum de consciência e controle nos seus sonhos. Além disso, esta habilidade poderia ajudar no tratamento de traumas mentais e distúrbios do sono.
Segundo o site LiveScience , a piscóloga Jayne Gackenbach, da Universidade Grant MacEwan, foi quem conduziu o estudo. Ela disse que existem grandes semelhanças entre sonhos e jogos por se tratarem de realidades alternativas.
“Os jogadores estão acostumados a controlar seus personagens em ambientes virtuais, e essa atividade também pode acontecer nos sonhos” – afirma Gackenbach, que apresentará seu trabalho em Boston, na 6ª Conferência Anual de Jogos para a Saúde, ainda esta semana.
Em seus primeiros estudos, ainda nos anos 90, a pesquisadora acompanhou as atividades cerebrais de pessoas dormindo, numa pesquisa acadêmica mais generalista sobre sonhos. Algumas dessas pessoas, todavia, relataram que, durante o sonho, sabiam estar dormindo e conseguiam mudar arbitrariamente seus movimentos.
A partir daí, Gackenbach começou a listar diversas semelhanças destes indivíduos com os gamers – pela similaridade netre controlar a si mesmo no sonho e um personagem na tela. Tanto quem tem algum tipo de facilidade em controlar seus sonhos como os jogadores parecem ter melhores habilidades espaciais e menor propensão a doenças de movimento. Os dois grupos demonstram um elevado nível de foco ou concentração.
Gackenbach alega que essas habilidades podem ter sido treinadas com meditação, sonos lúcidos ou horas gastas lutando contra inimigos virtuais. O “estalo” para comparar os dois grupos aparentemente tão díspares, segundo a pesquisadora, foi bastante prosaico: ainda na década de 90, no Natal, um de seus filhos ganhou um console da Nintendo e passou a noite beijando o aparelho.
A coleta do dados durou cerca de dez anos. Com esses dados em mãos, dois estudos paralelos foram feitos, acompanhando o sono de jogadores e não-jogadores. O primeiro estudo sugere que os jogadores relatavam mais frequentemente a experiência de sonhos lúcidos, ou onde poderiam se ver de fora de seus corpos, participando ativamente do controle de suas ações, semelhante ao controle de uma personagem no jogo.
O segundo estudo, mais voltado para os gamers, mostrou que esse tipo de atividade cerebral durante o sono era comum, mas nunca era possível assumir o controle de qualquer coisa que não eles mesmos, seus avatares.
Outra parte estudada foram os sonhos recorrentes, onde vários dos participantes relatavam já se adiantar à próxima ação, mudando o sonho completamente.
Com base na teoria da simulação de “ameaça” proposta pelo psicólogo finlandês Antti Revonsuo, pela qual os sonhos poderiam imitar situações ameaçadoras da vida real, Gackenbach resolveu avaliar também qual o comportamento dos jogadores quando tinham pesadelos.
Para esse teste, a psicóloga reuniu um grupo com 35 homens e 64 mulheres. A experiência revelou que os praticantes de jogos eletrônicos tinham menos pesadelos e, quando os tinham, eram capazes de reverter a situação de ameaça. “O que acontece com essas pessoas é algo inexplicável. Eles não fogem. Eles se viram e lutam contra seus medos. Eles são mais agressivos que as pessoas normais, nessa situação.” – explicou Gackenbach.
Essa agressividade desanimou um pouco a pesquisadora. Mas ela deduziu que essa característica de semi-proteção poderia ajudar veteranos de guerra que sofrem com distúrbios pós-traumáticos, que podem acontecer depois de experiências de combate.
Simuladores de realidade virtual já foram utilizados para ajudar pacientes com esse distúrbio a ajustar gradualmente as situações ameaçadoras que rondam seus pensamentos de vigília e sono. Se o palpite de Gackenbach estiver correto, talvez os games possam ajudar a diminuir seus pesadelos. [Fonte: Yahoo Tecnologia]