Marta era uma amiga distante. Não conversávamos muito porque não havia o que conversar. Eu era quase 10 anos mais velho que ela e não tinha fama de rockstar, nem de bêbado, nem de drogado. Ela era uma menina magrinha, bonita, desnorteada pro lado ruim da vida.
Nosso contato praticamente não existia. Não proporcionávamos nada um para o outro.
Na verdade, éramos pessoas tão distintas que o óbvio seria o não-contato. Por tudo isso que a surpresa foi grande, naquele sábado quente, quando meu telefone tocou e era ela no outro lado da linha.
– Serafim! Que saudade! Ela parecia feliz.
– Eu queria comprar os teus livros e aproveitar pra falar contigo sobre uns projetos. Que vai fazer amanhã de tarde?
– Projeto sobre? Eu indago.
– É que assim, lembra que eu te contei que estou trabalhando com uns empresários da região do Vale, área financeira... e tenho projetos de expandir o negócio – me interessei muito –, educação financeira, que é muito importante... daí queria tua opinião, se tu se interessar, quem sabe pudesse trabalhar comigo , quando eu fosse pra São Paulo ou pro Rio de Janeiro.
Meu melhor amigo havia me avisado que Marta estava louca, acreditando em livros que solucionam sua vida em poucas lições.
– Não é pirâmide? Nem parecido?
– Imagina! Nós conversamos direitinho e te explico o que é.
– Guria... tu vai me colocar numa furada. Abrirei mão, Marta.
Ela se irritou imediatamente e disse:
– Eu disse que não é pirâmide; trabalho com empresários do Vale! Tudo bem então... quando decidir ir pro Rio, irei sozinha, Sou empreendedora e aceito o desafio.
Eu me despedi convicto que havia feito a coisa certa e, naquele mesmo dia, ela me envia a seguinte mensagem: “Aos fracos, cativeiro! Aos fracassados, aos que reclamam e não fazem nada e nunca vão conseguir algo diferente em suas vidas!”
Que frase mal escrita.

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