... e a vida segue.
Coisas e Coisas

... e a vida segue.


Trilha sonora para este post:
Pâle Septembre (Pálido Setembro)
Camille
Veja a tradução aqui!





O final de um personagem não deixa de ter um tom melancólico. A necessidade de largar uma vestimenta que nos acompanhou por tanto tempo... às vezes anos... tem um quê de morte. Mas, faz parte da natureza do ator fazer estas despedidas. Todas as noites passamos por esse ritual estranho de ser outro, sendo o mesmo. Eu mesmo já me despedi muitas vezes... já morri muitas vezes, para renascer na próxima sessão.

Mas, quando a despedida é definitiva, quando chegamos à última apresentação... como é que fazemos? Falamos o último texto e saímos de cena assim, facilmente? Encontramos as mesmas motivações para estar na cena, mesmo sabendo que será a última vez? Ou resistimos? Ou aceitamos?

Eu, por via das dúvidas, quero sempre criar uma cena final em que a luz vá caindo lentamente... Quero ter a possibilidade de deixar o espetáculo olhando nos olhos da platéia ou, pelo menos, de outros atores. Quero ter cumplicidade no momento final. Se for possível segurando a mão de alguém... para quando vier o black-out total, a mais completa ausência de luz, eu poder ter a sensação de não estar sozinho. Deve ser muito ruim morrer sozinho.

Você me acompanha nesse último momento? Eu não estou pedindo fidelidade eterna. A gente termina o espetáculo juntos... você segue para sua casa... eu sigo para a minha. Sem compromisso! Só o que eu te peço é que sejamos inteiros nesse momento: você segura a minha mão como quem segura a mão de um filho. Ou de um irmão. Ou de alguém que você conheceu há pouco tempo mas é capaz de perceber que tem um bom coração... um coração frágil... um coração...

Se por acaso eu me emocionar, não se preocupe... eu vou superar. Eu sempre supero! É que eu tenho um histórico de mortes. Muito tempo fazendo o mesmo espetáculo, sabe como é, né? Se, por acaso, você se emocionar, lembre-se... é só teatro. A morte de um personagem... praticamente um coadjuvante. Lá fora a vida continua... eu vejo que sua vida continua... É bastante comum que as pessoas larguem as mãos dos outros e esqueçam... superem. Você vai superar... eu sempre supero! Mas eu não esqueço... nunca.





Pálido setembro
como está longe
o tempo do céu sem cinzas
já era tempo de decidir-se



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