Uma riquíssima fauna humana - parte 2
Coisas e Coisas

Uma riquíssima fauna humana - parte 2



Quem acha que são os corintianos o verdadeiro bando de loucos não conhece, com certeza, os fotógrafos de hard news. Ou repórteres fotográficos, como preferem alguns. Fotógrafo que se preza tem cabelos desgrenhados, barba por fazer e cara de quem passou a noite toda sem dormir. Não podemos esquecer também os olhos vez ou outra vermelhos e marejados, pelas mais diversas razões. Se você conhecer um fotógrafo muito certinho, desconfie, meu amigo. Deve ser daqueles que cobrem casamentos ou batizados.

Quando saía pelas ruas de Sampa para alguma reportagem, sentava-me, naturalmente, no banco de trás do carro do jornal. O fotógrafo sempre estava na frente, ao lado do motorista. Fotógrafos e motoristas são seres semelhantes, meio donos da situação. Onipotentes. As duas espécies gabam-se de conhecer o melhor caminho, o atalho perfeito para chegar ao destino final. Cantam as menininhas na rua com a mesma desenvoltura e adoram comprar uma briga com algum segurança ou policial que abuse de seu poder.

Mas os fotógrafos, assim como os motoristas, também sabem ter uma simplicidade ímpar. Não têm frescura, topam almoçar em qualquer restaurante, mesmo naqueles de péssima reputação.

Viajar e dividir o quarto do hotel com um fotógrafo demandava estômago. Na época em que não existiam as máquinas digitais e os filmes tinham de ser revelados, o banheiro do quarto era transformado em um laboratório: toalhas nas janelas para garantir a escuridão, a banheira cheia de água e aqueles produtos químicos fedorentos. E, como o quarto só tinha um banheiro, privei-me muitas vezes de um banho. Ou de ter uma diarréia.

Mas eu sempre admirei esses loucos, principalmente os que tinham sacadas maravilhosas de fotos, os que conseguiam captar o instante de forma magistral. Admirava também o tesão de alguns em buscar sempre a excelência, o melhor ângulo, a melhor expressão das pessoas, mesmo que, para isso, fosse preciso repetir e repetir o trabalho. Sempre curti o trabalho dos fotógrafos, porque o resultado final era fiel à realidade. As palavras mentem, mas as imagens, não. Quer dizer, isso até o dia em que inventaram o Photoshop...



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