TELEVISÃO (1993-2003)
Coisas e Coisas

TELEVISÃO (1993-2003)



No volume Comunicación e cultura en Galicia e Portugal, coordenado por Xosé López e Rosa Aneiros e editado o ano passado pelo Consello da Cultura Galega, destacam-se comunicações de investigadores e docentes das seguintes universidades: Santiago de Compostela, a anfitreã de um congresso realizado na Galiza em 2004, Universidade do Minho, Universidade Fernando Pessoa, Universidade do Porto e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. O volume reuniu, como indiquei, gente ligada às universidades de um lado e de outro do rio Minho, relação frutuosa que vem decorrendo desde há diversos anos.
Com maior interesse para o blogue, destaco o texto de Felisbela Lopes (Universidade do Minho), intitulado O PAP: a década em que o entretenimento conquistou o espaço da informação. PAP quer dizer panorama audiovisual português, sendo Felisbela Lopes uma das maiores especialistas do país em televisão e informação televisiva.
No texto, a autora propôs-se avaliar os dez anos que, até então, haviam decorrido desde a abertura da televisão à iniciativa privada (1993-2003). Recorde-se que, em 1993, o responsável pela programação da televisão pública era José Eduardo Moniz, agora homem forte da TVI e novamente falado devido a alterações na cúpula do canal, como anteontem escrevi. Em 1993, a SIC e a TVI não representavam ameaça à RTP, que tinha uma forte tendência no domínio da informação, mas apostando o horário nocturno em telenovelas brasileiras, sitcoms e programas de apanhados.
A SIC promovia um programa que analisava problemas sociais, a Praça Pública, e uma nova forma de fazer jornalismo, que lhe renderia muito algum tempo depois. A primeira notícia do primeiro noticiário do canal privado foi "Estudantes em luta contra as propinas" (para os leitores brasileiros: valor mensal ou semestral a pagar na universidade). As novelas da Rede Globo passariam para a SIC: De corpo e alma desencadearia o primeiro confronto de contra-programação da RTP, a 15 de Novembro de 1992. Depois, estreado na SIC em Outubro 1993, Chuva de Estrelas seria o programa mais visto do ano.
Quanto à TVI, ligada inicialmente à Igreja Católica, tinha como tira diária do horário nobre uma novela portuguesa (Telhados de Vidro) e uma venezuelana (Lágrimas). Para o canal, entrariam duas vedetas da RTP: Manuel Luís Goucha (Momentos de Glória) e Artur Albarran (com programa semanal com o seu nome).
Felisbela Lopes dedica um espaço razoável a apreciar as tendências da informação não diária em 1993. Para ela, a informação é uma área de atracção de espectadores para outros géneros. Os debates dessa altura eram de ordem política, com políticos e especialistas a discutirem temas candentes.
Dez anos depois, em 2003, a televisão portuguesa está diferente. A TVI e a SIC estão à frente da RTP, que se oferece como alternativa. A docente da Universidade do Minho recorda que a RTP foi a única televisão do mundo a transmitir em directo o ataque americano na guerra do Iraque. Aliás, o noticiário da televisão pública era o único de entre os dez programas mais vistos nos vários canais.
A informação não diária tinha no canal público a maior quantidade de programas, como Prós e Contras, Grande Entrevista e Grande Repórter, este substituido entretanto por Estado da Nação. Já a SIC, em 2003, tem "uma programação desenhada a partir do interesse público", como escreve Felisbela Lopes. Novelas brasileiras, humor em português, concursos musicais e programas onde se dá voz aos convidados vítimas de injustiças sociais - eis o quadro de referência da SIC. Também a TVI opta por um modelo aproximado, centrado no noticiário da 20:00 (Jornal Nacional), ficção nacional e Big Brother (a partir de 31 de Agosto de 2001). A informação não diária não é um objectivo da TVI.
A autora conclui pela observação do muito tempo ocupado com reality shows, os quais influenciam os restantes conteúdos televisivos. Nos noticiários da TVI, os jornalistas chegariam a preparar notícias sobre o Big Brother, numa confusão de informação e entretenimento. É o tempo da tele-verdade, da tele-realidade.



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