Coisas e Coisas
DEFENDIDA TESE DE DOUTORAMENTO SOBRE TELEVISÃONa Universidade do Minho, em Braga, decorreu hoje a prova de doutoramento de Felisbela Lopes, docente daquela escola, com o tema
Uma década de televisão em Portugal - 1993-2003. Estudo de programas de informação semanal dos canais generalistas.
A nova doutora estudou os programas de informação semanal dos canais generalistas ao longo de uma década, procurando estabelecer quadros de interpretação a nível do agendamento, da instância reprodutiva de significação e das cenas mediáticas estruturantes. Como perguntas de trabalho elencou: que lugar ocupa a informação semanal no horário nobre? Que espaço público cria? Como hipóteses de trabalho formulou: 1) a informação televisiva como espelho de reconstrução da realidade, 2) traços dos géneros televisivos da informação (debates, grandes entrevistas, talk-shows).
Felisbela Lopes analisou grelhas de programas, relatórios e contas das empresas televisivas, artigos de jornais e de revistas como
TV Guia e
TV Mais, alinhamento dos programas de informação e indicadores de audiências da Marktest, num trabalho respeitante a cinco anos (1993, 1996, 1998, 2001 e 2003). Ela concluiria que os programas de informação semanal foram abandonando o horário nobre dos canais generalistas, passando a horas mais tardias até desaparecerem. Isto é: de aposta importante nos canais, em especial nos privados desde 1992-1993, conforme compromissos assumidos com a atribuição de licenças, passou a haver uma homogeneidade em termos de ausência desse tipo de programas.
Assim, existe hoje uma ágora (espaço) mediática monotemática, com um discurso masculino (os homens pensam o Estado, discutem política) e uma continuidade de representantes (ministros, secretários de Estado, outros dirigentes), sem renovação [tese que entronca no que Rita Figueiras defende quando analisa os líderes de opinião nos jornais, em recente livro editado pela Livros Horizonte]. A manutenção dos mesmos participantes passa pelos jornalistas e por aquilo a que Felisbela Lopes chamou de
engenheiros do social: médicos (nomeadamente psiquiatras) e académicos (primeiro os historiadores e depois os sociólogos). Ou dito de outra maneira: os palcos elitistas enchem-se dos mesmos confrades.
O desaparecimento da informação semanal significa, por outro lado, a criação de espirais de silêncio temático (discussão do ambiente e dos media, por exemplo). A autora debruçou-se ainda sobre a questão das audiências. Primeiro, porque se diz que tais programas não têm audiências, logo não atraem publicidade. Depois, porque deixou de haver capacidade em procurar novos temas e agentes sociais, complementando a ideia expressa acima. Em 2003, ano final da sua pesquisa, restava o programa
Prós e Contras (RTP1), com muitas semelhanças aos debates de dez anos atrás (parte-se da ideia que um formato envelhece rapidamente).
A arguência da tese esteve a cabo de Francisco Rui Cádima (Universidade Nova de Lisboa) e José Paquete de Oliveira (ISCTE). O orientador do trabalho foi Manuel Pinto (Universidade do Minho). Este último deixou pistas interessantes, que espero retomar um destes dias, que não hoje, porque o cansaço é grande e a meia-noite se aproxima.
Resta dizer que Braga estava muito bonita. O blogueiro ainda fez uma fotografia de uma das ruas iluminadas e nem teve tempo de comprar pão de ló de Margaride (ou outra guloseima), o que valeu uma reprovação geral quando chegou a casa. O que não aconteceu com a candidata, que obteve a melhor classificação possível. Ficamos agora à espera da publicação deste importante trabalho, possivelmente em duas partes (a teórica e a de aplicação).
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