SONDAGENS E OPINIÃO PÚBLICA
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SONDAGENS E OPINIÃO PÚBLICA



Nos Estados Unidos, entre 1935 e 1940, George Gallup, que trocou o ensino do jornalismo pela publicidade, inventou as técnicas de sondagem e deu-lhe legitimidade e sentido de eficácia política (1). Numa conferência pronunciada em 1939 na Universidade de Princeton, na altura da instalação do American Institute of Public Opinion, Gallup desenvolveu os conceitos de vontade popular, democracia representativa, grupos de pressão, inquéritos de opinião e sua fiabilidade, e efeito de arrastamento (bandwagon), que leva os indivíduos a acreditarem naquilo que os outros acreditam. Estes assuntos encontram-se também no seu estudo The pulse of economy (1940). As sondagens conduzidas por Gallup, Crossley e Ropper ganharam grande popularidade quando acertaram nos resultados eleitorais de 1940 e 1944, mas enganaram-se em 1948. No pós-Segunda Guerra Mundial, a deslocação de populações dos meios rurais para as cidades alterou o conhecimento dado pelo censo de 1940, questionando o método da amostra por quotas (2).

Sondagem foi igualmente o termo usado por Jean Stoetzel, quando em Maio de 1938 introduziu em França os inquéritos de opinião durante uma eleição presidencial (3). Na altura, muita gente não prestou atenção ou não quis acreditar nas vantagens das sondagens e dos inquéritos de opinião. A pergunta é: como se pode conhecer a opinião de um país através de um inquérito a mil ou duas mil pessoas? O cepticismo não se liga à idade, nível de instrução, inclinações políticas ou interesses pessoais (4), mas faz parte da desconfiança face aos meios empregues. Depois da Segunda Guerra Mundial, o mesmo Stoetzel constituiria o Instituto francês de Opinião Pública. Não cabe neste momento traçar a história da ideia da opinião pública e dos inquéritos e análises quantitativas perseguidas por Gallup, Lazarsfeld, Stoetzel e outros, e as críticas dirigidas por Adorno, Habermas e Bourdieu.


Já na década de 1960, na Europa, lançaram-se pesquisas sobre representações, atitudes e comportamentos dos cidadãos em diversos domínios das suas actividades sociais (5). Claro que os Estados desde há séculos tinham criado sistemas de informação para colectar impostos ou saber quantos cidadãos recrutar para uma mobilização militar. Os institutos nacionais de estatísticas são uma reforma mais recente. O português nasceu em 1935.

Com os anos, surgem vários interesses novos de informação: como se definem os públicos de cultura, como se consomem os bens materiais, quais as opiniões políticas do eleitorado, quais as audiências de televisão? O Instituto Nacional de Estatística (INE) cumpriria algumas destas funções, mas dado o custo – inquirir toda a população –, houve necessidade de tornar os estudos mais leves. As sondagens recorrem a amostras, que representam a população total em pequena escala, estudando-se as características de modo a corresponder essa amostra à população no todo.

Em Portugal, o primeiro estudo de audiência de imprensa foi realizado e publicado em 1952 por Salviano Cruz (6). Entre 1980 e 1982, a Teor instalou um painel semanal de audiência e avaliação dos progamas da RTP. Depois, a Norma realizou estudos de audiência de meios até 1990, criando a primeira base de dados interactiva online, com a audiência de todos os media, para utilização pelas agências de publicidade e outros clientes. Ainda em 1990, a Norma instalou um sistema de audimetria para a audiência de televisão (7), enquanto surgiam empresas como a Agb/Marktest e a Ecotel Portugal, preparadas para o arranque da televisão privada. Logo depois, em 1991, a Universidade Católica Portuguesa (CESOP - Centro de Estudos e Sondagens de Opinião) iniciava trabalhos na área das previsões eleitorais, continuadas em sondagens sobre temas de relevância política, social e cultural para vários media e entidades oficiais e particulares.

(1) Blondiaux, 2001: 167
(2) D’Ancona, 2004: 21
(3) Girard, 1989: 7; Riffault, 1989: 13
(4) Riffault, 1989: 21
(5) Rabier, 1989: 37
(6) Revista de Pesquisas Económicas e Sociais, vol.II, Setembro-Dezembro de 1952
(7) Informações prestadas por Mário Bacalhau em email enviado ao autor em 11 de Setembro de 2008

Bibliografia
Blondiaux, Loïc, e Dominique Reynié (coord.) (2001). "L’opinion publique. Perspectives anglo-saxonnes". Hermès, nº 31. Paris: CNRS Éditions
D’Ancona, María Ángeles (2004). Métodos de encuesta. Teoría y prática, errores e mejoras. Madrid: Editorial Síntesis
Girard, Alain, e Edmond Malinvaud (1989). Les enquêtes d’opinion et la recherché en sciences sociales. Paris: L’Harmattan
Rabier, Jacques-René (1989). "L’utilisation comparative et diachronique des données d’enquêtes par sondage". In Alain Girard e Edmond Malinvaud Les enquêtes d’opinion et la recherché en sciences sociales. Paris: L’Harmattan
Riffault, Hélène (1989). "La perception des enquêtes d’opinion". In Alain Girard e Edmond Malinvaud Les enquêtes d’opinion et la recherché en sciences sociales. Paris: L’Harmattan



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