A grande vantagem de estar na maior merda nos dias atuais é que a gente pode colocar tudo na conta do Obama. Desde que ele ganhou a eleição, gente desgraçada do mundo inteiro voltou a ter esperança de que as coisas vão melhorar!
Até uma amiga minha, encalhada há anos, está botando a maior fé no Obama. “Duda, presta atenção: esse negão vai resolver o meu problema de homem em 2009”, me confidenciou semanas atrás, em meio a garrafas de vinho barato e resoluções para o Ano Novo. E prosseguiu: “O Obama é o cara. Aquele Santo Antônio não se reciclou, tá meio ultrapassado.” Me explicou ainda que a simpatia do momento é deixar um bonequinho do Obama de cabeça para baixo dentro dum copo d’água no guarda-roupa.
Eu confesso que também vivo um momento de entusiasmo com o Obama. Se ele realmente der um jeito na grave conjuntura econômica global – ministros da Fazenda do mundo inteiro também devem estar com seus bonequinhos do Obama de castigo –, tenho mais chances de arrumar um novo emprego e abandonar esse período sabático permanente a que fui submetido pelo meu ex-chefe. Além de sair do cheque especial, é claro!
Estou curtindo o meu ócio criativo, é verdade, mas preciso voltar a trabalhar este ano. Esta foi minha principal resolução de Ano Novo. Já sinto uma falta imensa da redação, dos pescoções, da tensão de alguns plantões, de almoçar apenas uma coxinha de frango no boteco da esquina, de escrever a tão perseguida grande matéria da minha vida! Sempre fui um cara ambicioso, de objetivos grandiosos, como conquistar a Ásia, a América do Norte e mais uns dez territórios.
Naquela noite de resoluções para 2009, minha amiga e eu, embriagados pelo vinho Chapinha e pelo Obama, nos abraçamos, choramos e bradamos com toda força: “Yes, we can; yes, we can”. Rimos, com alegria infantil, de nossa miséria.