[Retomo a série de mensagens que escrevi nos dias 1, 2, 3, 4, 5 (primeiro e segundo post) de Setembro de 2009]
Em Janeiro de 2009, a Ofcom, regulador inglês das telecomunicações e dos media, editou um relatório intitulado Putting Viewers First, com recomendações sobre o futuro do serviço público do audiovisual (doravante, refiro televisão). O relatório identificou várias mudanças e oportunidades sobre o sistema público de televisão (pp. 2-3), incluindo: transição do analógico para o digital, as audiências valorizam o conteúdo do serviço público e aceitam mantê-lo, os ingleses querem serviço público para além da BBC. As recomendações da Ofcom ao governo defendiam a manutenção do papel da BBC e do seu financiamento, privatização (free-up) dos canais ITV e Five com um envolvimento de serviço público limitado, criação de alternativa ao serviço público da BBC através do Channel 4. A Ofcom também apresentou modelos alternativos de financiamento do serviço público.
Petros Iosifidis, editor do livro Reinventing public service communication - European broacasters and beyond (2010), critica as recomendações da Ofcom. Argumenta que a pluralidade de conteúdos é mais importante que a pluralidade de fornecedores (ou pluralidade institucional, na linguagem da Ofcom) (Iosifidis, 2010: 24). Docente na área de media e comunicação do departamento de sociologia da City University de Londres, ele é um defensor do PSM (Public Service Media), como o conjunto de slides de uma sua comunicação (ver a seguir) o indica.
A análise da Ofcom, prossegue Iosifidis, considera que a viragem tecnológica para o digital (apagão analógico) e a concorrência intensificada reduzem o serviço público nos canais comerciais ou mesmo a sua suspensão. Há pelo menos três tipos de pressão: fragmentação da audiência, media alternativos, quebra de investimentos publicitários. Se os telespectadores têm cinco operadores de televisão com serviço público, as mudanças no mercado levarão à sua queda. O Digital Britain 2009 (p. 20) indicava a tendência da Ofcom: liberalização progressiva do Channel 3 e do Channel 5, de modo a poderem tornar-se totalmente comerciais, mas manutenção de serviço público concentrado na produção de originais (séries, por exemplo) e nos noticiários. Isto levaria a BBC a surgir com obrigações de serviço público de televisão quase em regime de monopólio.
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