Separação
Coisas e Coisas

Separação


Nossa relação acabou há 2 meses, 14 dias, 7 horas e 18 minutos. Depois de quase 10 anos juntos. Não tem sido fácil, como nenhum fim de relação é. Ainda sofro, choro, mas, ao menos, nenhuma recaída. Morro de medo de recaídas. Meus pais, que sempre defenderam a separação, dizem que sou uma mulher jovem, cheia de talento e disposição e que logo encontro uma nova profissão. Deus queira que eles tenham razão. A coisa com o jornalismo foi louca, foi paixão, com direito a frio na barriga e noites insones. Achei que jamais viveria sem ele. Mas paixão não enche barriga, não paga as contas do mês, ensinou papai. O jornalismo é muito boêmio, sedutor. Está longe de ser bom pai de família.

Nossa relação acabou há 2 meses, 14 dias, 7 horas e 31 minutos. Hoje decidi que vou jogar fora os objetos que ainda me fazem lembrar dele: um bloquinho de anotações, uma caneta com o logo do último empregador e um gravador. Vai tudo para o rio. Quero que as águas fedidas levem meu passado para longe. O jornalismo foi meu primeiro e único amor. Me encantou ainda menina. Agora acabou. A vida segue. Mamãe até já meu apresentou um pretendente, o tal concurso para auditor da receita federal. Jura que é um partidão. O problema é que eu achei ele meio sem graça, mas, sei lá, preciso estar aberta aos novos amores. Chego ao rio. Não é um rio qualquer. É o rio-personagem da minha reportagem de estréia, o rio que num mês de janeiro distante transbordou com a chuva e alagou a avenida. Agora será o rio da despedida.

Nossa relação acabou há 2 meses, 14 dias, 7 horas e 34 minutos. Vejo uma movimentação estranha na ponte. Parece um carro de bombeiros. Sim, são bombeiros. Um cachorro vira-lata agitado. Me aproximo. Parece um salvamento. Alguém estava se afogando. Pergunto ao bombeiro quem estava se afogando. Ele aponta para o bebê no carro de resgate. Conta que alguém viu a mãe atirar o bebê da ponte. Caralho. Abro meu bloquinho de anotações. Pego a caneta. Eu pergunto quem é esse alguém que viu a mãe jogar o bebê da ponte e o bombeiro me diz que foi um mendigo, que pulou no rio para salvar o bebê. Eu anoto tudo. O mendigo salvou o bebê e desapareceu nas águas. E o cachorro do mendigo está na margem do rio. Que história! Pergunto mais isso, mais aquilo, tiro fotos com meu celular.

Demoro para me dar conta: estou tendo uma recaída. Ah, não, Deus, me ajuda, não me deixa ter uma recaída, não deixa esse jornalismo me seduzir de novo, por favor. Logo hoje, meu Deus, que eu iria completar dois meses e meio de separação?



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