Respeitável jornalista
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Respeitável jornalista


Elisberto apresentava-se como empresário, homem das finanças e artista. Comandava um circo, que foi herdado do pai e que, décadas antes, já havia sido herdado do pai do pai. Era um pequeno grupo mambembe que viajava pelo interior do Brasil. Além de dono do circo, Elisberto era o bilheteiro e contabilizava os lucros ou os prejuízos dos espetáculos. Vendia também pipocas e refrigerantes e, como era versátil, ainda subia no picadeiro para apresentar as atrações e encarnar o palhaço Amendoim.

Apesar de tanto esforço, o movimento do público diminuía cada vez mais. Não era fácil manter vivo um grupo circense em tempos de forte concorrência, com reality shows e escândalos mil na política. Mas Elisberto não desistia. Um dia, após uma apresentação, foi abordado por um homem, que não se identificou. O homem pediu licença para dar um conselho que ajudaria a aumentar o público do circo: uma assessoria de imprensa para divulgar os espetáculos nos jornais e rádios das cidades que o circo visitasse.

- Mas eu não sei fazer isso, não posso fazer, respondeu Elisberto.

- É claro que você pode. Qualquer um pode. Isso não exige diploma! Você já faz tanto neste circo, seria apenas mais uma atividade. Apenas escreva textos e envie aos jornalistas. Seja você o seu próprio assessor de imprensa.

O homem deu instruções a Elisberto de como fazer a coisa. Sugeriu ainda que, em cada cidade que o circo estivesse, Elisberto convidasse os jornalistas locais, seus filhos e amiguinhos dos filhos para assistir aos espetáculos sem pagar, com direito a guloseimas. Isso convenceria os jornalistas a falar bem do circo.

- Jornalista se vende por um saquinho de pipoca, disse o homem.

- Será mesmo?

- Brincadeira. Mas por dois saquinhos de pipoca, sim, um de salgada e outro de doce, riu.

Elisberto aceitou o conselho e passou a produzir releases, sem saber que o nome daquele texto era release. Chamava de “importante comunicado à imprensa”. Falava das atrações, das datas e dos horários das apresentações. Cometia alguns erros graves de Português, mas estava perdoado, afinal os mesmos erros também são cometidos por tantos assessores profissionais. Elisberto tinha a mania de começar todos os seus comunicados com “respeitável jornalista” e jamais se esquecia de chamá-los para assistir a um espetáculo como convidados de honra, com “toda a mordomia”, o que incluía pipocas salgadas e doces.

A estratégia deu um excelente resultado, a divulgação ajudou a levar mais público ao circo. Elisberto tornou-se grato àquele homem que nunca mais viu e sequer soube o nome. Feliz, passou a se apresentar como empresário, homem das finanças, artista e assessor de imprensa.



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