Coisas e Coisas
RÁDIOS LOCAIS - UMA CARACTERIZAÇÃO
O estudo agora publicado pela ERC,
Caracterização do Sector da Radiodifusão Local, considera os seguintes meios relacionados com a transmissão de conteúdos de rádio: rádio hertziana, online, satélite, digital, podcast e telemóvel. Observa que as audiências têm baixado lentamente ao longo dos anos, e um movimento semelhante quanto a investimentos publicitários.
Quanto às rádios locais, eixo central do estudo, indica que há pouca informação em termos de audiências e investimentos publicitários. Curiosamente, uma das principais fontes de informação do estudo é a Marktest e os resultados que esta entidade publica regularmente; daí que o estudo parta do preço médio de um spot publicitário a partir de preços de tabela indicados nos estudos da Marktest - 198 euros numa rádio nacional e 15 euros numa rádio local. Com as taxas de desconto a poderem ir até aos 80% nas rádios nacionais e 60% nas rádios locais, os valores reais são de 40 euros numa rádio nacional e 6 euros numa local (aqui, pode descer até aos 3 euros, conforme se explicita melhor na página 126).
O estudo assenta em dois sectores fundamentais (análise internacional: Estados Unidos, Espanha, Reino Unido, França; análise nacional, com especial incidência nas rádios locais) e em duas metodologias: inquérito (165 rádios locais; num outro sítio, li 181 rádios) [ver análise nos parágrafos seguintes] e 8 entrevistas a responsáveis de rádios locais. Das estações analisadas, apenas 7 têm facturação superior a 500 mil euros, 25 entre 200 e 500 mil euros e as restantes abaixo de 200 mil euros. Assim, o valor da média de facturação por rádio anda nos 23180 euros, apesar de ser um dado meramente estimativo, quanto se percebe do estudo (página 141), com as áreas da Grande Lisboa e Grande Porto a serem as maiores geradoras de publicidade. Quanto a recursos humanos, a média em cada rádio local é de 4 empregados (aparece um desvio na zona do Ave, com 15 empregados, como se lê na página 136, certamente um erro de preenchimento não explicado; da mesma forma, o Ave aparece em primeiro lugar na facturação média, como se lê na página 121). As 20 rádios mais rentáveis têm poucos ou nenhum empregado (esta observação parece-me estranha, pois pelo menos deve haver alguém que liga a electricidade e os computadores que transmitem música), com custo anual por empregado de 7 mil euros. A audiência média é de 23 mil habitantes (a nomenclatura melhor seria ouvintes) (página 21).
A maioria da programação das rádios locais é generalista (94%) e temática (as restantes). A caracterização do mercado das rádios locais começa na página 65 do estudo (83 rádios do litoral, 70 do interior, 12 das regiões autónomas). A programação temática dos operadores abrange cultura (86%), música portuguesa (81%) e crenças religiosas (47%). Mas muita da produção é externa às estações, caso da cultura, com 60%, o que permite uma estrutura mais flexível de custos. Em termos de regularidade de programas em diversas temáticas ficam aqui alguns números: 58% em ambiente, 53% para públicos femininos, 84% sobre cultura, 78% para públicos infanto-juvenis, 96% quanto a música portuguesa, 39% em termos de noticiários em cada hora, 92% quanto a informação regional, 79% com participação pública, 91% dedicados a informação desportiva.
Anoto alguns problemas no estudo, o principal dos quais é inerente ao inquérito: responder não significa que os dados reflictam a realidade do sector. A mim, parecem-me exagerados os valores da programação regular, excepto no desporto. Não há forma de despistarmos os dados com este método, sem qualquer análise qualitativa à programação. As entrevistas ajudam a colmatar algumas das dificuldades identificadas, apesar da incidência em rádios a norte do Mondego, o que compromete a leitura do país. Outra falta é a ausência de bibliografia: apesar da evidência de poucos estudos, eles fizeram-se, caso dos do Obercom. Igorar isso é falta de consideração.
Mas o balanço é muito positivo, pois o inquérito representa o melhor estudo sobre a rádio que eu conheço, o que permite olhar melhor para o sector.
Autores: Change Partners (José Bastos, Maria João Rego, Rui Lopes) e Escola Superior de Comunicação Social (André Sendim, António Belo, Carlos Andrade)
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