Em palco, a raiva - parece que cólera - é amplificada pela electricidade. À voz dura mistura-se o braço e o punho erguido. Não há muitos sinais da reacção do público, a não ser uma onda em salto. Fica-se com a ideia que o mundo acaba ali, desaguando para a violência - ou para a revolução (como a crítica a G. W. Bush).
Em casa, é uma voz suave, uma mão que brinca com o gato, que fala de coisas quase banais, que mostra as fotografias. Há um grande desalinho nos objectos, coisas pelo chão, descuido. Talvez reflictam um desprendimento dos bens materiais, a recusa em viver bem, a aceitação das coisas simples da vida. Ou ainda a teimosia em não querer sair do seu sítio, do seu sofá, até um dado momento. Ficar - e não partir.
Em terceiro lugar, há o longo espaço de memórias. Pelos familiares desaparecidos, pelo visitar as campas dos poetas incompreendidos no seu tempo. Há uma nítida recuperação de valores do seu tempo e de tempos antigos. Aliás, ela usa uma metáfora dos antigos que escrevem para a posteridade, a pensar nos que hão-de nascer, e dos mais modernos que elogiam e celebram os antigos, como se existisse um permanente retorno.
Patti Smith (nome de nascimento Patricia Lee Smith) nasceu em 1946 no Illinois e cresceu em New Jersey. Como a família não era rica, foi trabalhar aos dezasseis anos para uma fábrica. Em 1967, mudou-se para Nova Iorque e conheceu Robert Mapplethorpe numa altura em que trabalhava numa livraria. Apesar da homossexualidade de Mapplethorne, os dois viveram juntos e mantiveram amizade até à morte dele por sida em 1989. Após uma longa ligação com o poeta Jim Carroll, conheceu Fred "Sonic" Smith, antigo guitarrista da banda MC5. Fred morreria de ataque cardíaco em 1994, ano em que também morreu Todd, o irmão de Patti.
Na década de 1970, Patti pintou, deu recitais, escreveu sobre rock (revista Cream) e compôs canções. Em 1975, lançou o seu primeiro álbum, Horses, uma espécie de fusão entre o rock e a música punk que se avizinhava, incluindo a recitação de poesia. Easter (1978) foi um álbum de muito sucesso. Depois de se ter retirado com a família, voltou com o álbum Dream of Life (1988), nome que dá o título ao filme de Steven Sebring, agora em exibição (elementos a partir da Wikipédia). Ver entrevista em texto e vídeo em Ípsilon, Público.
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