Os Mata-Ratos e o punk
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Os Mata-Ratos e o punk


No Diário de Lisboa de 31 de dezembro de 1984, era publicado um texto assinado por Rui Eduardo Paes sobre o punk e um festival musical em finais desse ano. O autor carregou forte nas palavras: "A assistência, um «naipe» de cristas ou cabelos ouriçados, com sebo, blusões pregados, jeans rasgadas, cervejas e escarros. Móbil da ocasião: acusar a hipocrisia presente na atual quadra festiva em que uns engolem o bacalhau e as filhoses lamentando entre garfadas ou trincadelas a miséria dos que têm salários em atraso ou já nem sequer têm emprego". Os punks, para Rui Eduardo Paes, estavam já enredados na apologia da destruição de tudo, da afirmação pela negativa".

O texto do Lisboa veio à baila após a leitura do livro de Paulo Lemos, Vida Suburbana, este ano editado pela Associação Cultural Burra de Milho. O livro, como já aqui escrevi, resultante da sua tese de mestrado na Universidade de Coimbra, trabalha o movimento punk (contexto da música popular urbana, semelhança de ideais políticos com o surrealismo, grafismo, fanzines e elementos e símbolos de identificação do movimento), enquadramento histórico desde a década de 1970 e sub-estilos, movimento punk em Portugal e caso dos Mata-Ratos. Durante anos, Paulo Lemos fez parte da banda punk açoriana Resposta Simples.

Como declaração inicial, eu não gosto da sonoridade dos Mata-Ratos, mas estou atento às mensagens contidas nas letras cantadas por Miguel Newton, aliás, co-orientador da tese de Paulo Lemos, e com um interessante prefácio no livro. A tese contou ainda com a orientação de Paulo Estudante. Embora o movimento punk tenha diversas raízes musicais na sua origem, ele soube desenvolver a sua própria identidade (p. 129), com os seus elementos e fãs a serem vistos como desestabilizadores sociais, visto no recorte de jornal acima, e que os conduziu a uma subcultura com um comportamento próprio. O autor identifica bandas como Crise Total, Kú de Judas, Mata-Ratos, Grito Final (todas de Lisboa), Cães Vadios (Porto), Bastardos do Cardeal (Viseu) e Cagalhões (Aveiro), com concertos em pequenos espaços e circuitos especiais.

Os media tiveram importância na promoção do punk, em especial em programas de rádio de António Sérgio e Luís Filipe Barros (p. 131). Se na década de 1980, as bandas divulgaram o seu trabalho através de auto-promoção dos espetáculos musicais e gravações em maqueta, na década seguinte surgiram editoras independentes e que possibilitaram a consolidação desta tribo na cena musical e cultural do país.

Leitura: Paulo Lemos (2015). Vida Suburbana. Terceira: Associação Cultural Burra de Milho, 148 páginas, 7,42 euros



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