Já escrevi aqui e aqui sobre o trabalho de Paula Guerra. Agora, faço-o a propósito do seu livro A Instável Leveza do Rock. Génese, Dinâmica e Consolidação do Rock Alternativo em Portugal (1980-2010).
O livro tem seis capítulos, um primeiro mais teórico orientado para os campos sociais e a segmentação e a diversidade cultural urbana. O segundo capítulo dedica-se à análise dos agentes de rock alternativo no nosso país, ao passo que o terceiro trabalha as propriedades do subcampo do rock alternativo, o quarto os valores e representações do mesmo estilo musical e o quinto os campos sociais e artísticos. O último capítulo faz uma proposta do desenho do subcampo do rock alternativo entre 1980 e 2010.
O rock existe no campo musical desde a década de 1950, reunindo "um conjunto de práticas, um repertório de sensibilidades e um conjunto de expressões corporais e de emoções institucionalizadas" da música popular (p. 182). Paula Guerra estudou o rock, desde o seu começo às diferentes formas por que ele foi passando, tais como o rock psicadélico, o proto-punk, o punk, a new wave, o electro, o grunge e o indie. O rock alternativo aparece neste fio complexo, ramificado e instável.
O estudo de Paula Guerra aborda especialmente o período da década de 1980 em diante, em que em Portugal se assiste a uma
movida nas cidades de Lisboa e Porto e ao aparecimento de bandas, editoras, fanzines, programas de rádio, agentes e estruturas em oposição e confronto face aos valores dominantes. A autora estuda também propostas não comerciais, em que a música é mais um gosto pessoal e menos um trabalho ou profissão, de onde realça o afastamento de lógicas e imperativos comerciais (p. 183). Algumas bandas que ela ilustra para explicar o movimento alternativo são: Mão Morta, Pop Dell'Arte, Mler Ife Dada, Bunnyranch, Wraygunn, d3ö, The Vicious Five, Linda Martini, Dead Combo, The Gift e Ornato Violeta (p. 185). Igualmente os media: Antena 3, Blitz, d'A Trompa, XFM, Som da Frente e Juramento Sem Bandeira. E ainda os radialistas António Sérgio e Henrique Amaro, o promotor Luís Montez, o músico Adolfo Luxúria Canibal e o jornalista Nuno Galopim.
Em termos de metodologias, a autora promoveu encontros com informadores privilegiados no Porto (a sua base de residência) e Lisboa - músicos, dj, promotores, editores, gestores de espaços de divulgação musical, jornalistas e investigadores (p. 47), atingindo 191 entrevistas (p. 48), com a maioria no grupo etário dos 36 aos 40 anos, dentro de uma configuração científica sociológica.
[texto concluído em 26 de Abril de 2014]