"Extremamente Alto & Incrivelmente Perto" do escritor americano Jonathan Safran Foer é uma história sobre o atentado de 11 de setembro, talvez o mais importante tema americano contemporâneo. O protagonista da história chama-se Oskar, um nome incomum para um jovem americano que vive nos anos 2000. O leitor experiente começará a desconfiar que há um diálogo com outra obra literária a partir daí. A suspeita se confirma quando o leitor encontra mais dois importantes detalhes sobre esse personagem: ele é uma criança superdotada e também toca um instrumento musical (um pandeiro). Para o leitor que conhece os clássicos da literatura alemã do século XX, o nome o induzirá a buscar associações entre a obra e "O Tambor" de Günter Grass, que também é protagonizada por uma criança superdotada que toca um instrumento musical (como indica o título, um tambor).
Mas por que um diálogo entre a prosa americana contemporânea e a literatura alemã do pós Guerra? Possivelmente o leitor começará a buscar similaridades entre os dois períodos através dos temas abordados pelas obras. Por exemplo, a obra de Grass além de fornecer uma visão do período de desenvolvimento e ascensão do nazismo na Alemanha, mostra a relação entre a arte e a guerra. Há uma idéia geral em "O Tambor" de que a arte é capaz de enfrentar os horrores e o grande sofrimento causados pela guerra. A obra de Safran Foer parece tentar justamente isso, enfrentar o trauma e o sofrimento causados pelo atentado de 11 de setembro através da literatura. O livro consegue com isso ser ao mesmo tempo engraçado e triste, comovente, mas realista.
No caso de "Extremamente Alto & Incrivelmente Perto" há apenas um direcionamento para questões relacionadas a dois períodos diferentes de turbulências da humanidade. No entanto, esse diálogo entre obras literárias pode ser bem mais profundo, conduzindo toda a interpretação de uma obra. O maior exemplo disso é "Ulisses" de James Joyce e sua relação com a "Odisséia" de Homero. A obra é muitas vezes tachada de difícil e muitos leitores abandonam a sua leitura pelo fato de não reconhecerem o paralelo existente entre a obra e a "Odisséia" de Homero. Falarei mais sobre a obra quando abordar o tema Recepção Estética e Recepção Crítica, então, por enquanto, o que interessa dizer é que cada capítulo* da obra de James Joyce tem paralelo com eventos da obra de Homero, imortalizando o homem comum, que vive uma vida comum, tal como um herói antigo, numa mistura original entre o clássico e o prosaico, entre atos eminentes de deuses gregos e atos corriqueiros de um humano sem grandes virtudes.
Notem que embora os exemplos dados tratem apenas de outros textos literários, as referências poderiam ser de qualquer tipo de arte. Essas considerações estão intimamente ligadas à próxima parte, a intertextualidade. A intertextualidade é uma característica que em parte quer dizer o que já foi exposto aqui, um diálogo com outros textos. No entanto, preferi abordá-la em separado para maior clareza de suas implicações.