Coisas e Coisas
O massacre de Munique em 1972 e o seu reflexo na rádio portuguesa
Em 7 de setembro de 1972, dois programas da Rádio Renascença eram suspensos. De produtores independentes, José Manuel Nunes e Adelino Gomes dirigiam
Página 1 (19:30 às 21:00) e João Paulo Guerra era o responsável por
Tempo ZIP (00:00 às 3:00). No começo da década de 1970, parte da programação da Renascença destacara-se pela sua qualidade, recordando ainda o programa
23ª Hora, que vinha de 1959 e se tornara uma referência com João Martins e batia a concorrência de Rádio Clube Português à noite.
Página 1, por exemplo, começara como uma ligação entre o programa de rádio e a revista
Flama, um semanário conceituado com preocupações religiosas e sociais.
Naquele começo de setembro, um comando palestiniano tinha entrado na aldeia olímpica de Munique e atacado e assassinado atletas e dirigentes israelitas. Adelino Gomes fez uma leitura dos trágicos acontecimentos, sem deixar de chamar a atenção para o problema político que envolvia a população palestiniana. À noite, João Paulo Guerra pegou no mesmo assunto. A notícia do
Diário Popular indica a suspensão mas não revela as razões do sucedido, embora o editorial desse dia contasse a posição oficial do jornal (do governo) sobre o massacre de Munique. Nem aponta a decisão final:
Tempo ZIP desapareceu,
Página 1 reapareceu algum tempo depois. Adelino Gomes e João Paulo Guerra seriam irradiados.
No ano seguinte, na atribuição dos prémios de rádio pela Casa da Imprensa, apesar de não atribuir prémio para um programa de rádio, o júri referiu a qualidade do programa Tempo ZIP enquanto existiu e pediu que fosse dado a título excecional um prémio de Reportagem Radiofónica a Adelino Gomes pelas suas qualidades no programa
Página 1, no qual "assumiu convictamente todos os riscos e deveres inerentes à profissão, sendo por isso de lamentar o seu prolongado afastamento" (
Diário Popular, 13 de dezembro de 1973).
A proibição dos dois profissionais de trabalharem na estação seria levantada em abril de 1974.
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