O Inferno de Duda
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O Inferno de Duda


Já imaginou o Inferno habitado só por jornalistas? Republico aqui minha viagem dantesca ao cafofo de Lúcifer, acompanhado do jornalista Luiz Carlos Alborghetti, que por conhecer bem o pedaço assume o papel de meu guia, meu Virgilio. A jornada espiritual começa no limbo, uma espécie de ante-sala do Inferno, e percorre os nove círculos.

Limbo: é o local onde ficam os jornalistas que fizeram algo de louvável, mas não escaparam do Inferno simplesmente porque escolheram ser jornalista. São os que denunciavam ministros picaretas, falsos doutores, os que defendiam a Amazônia. O local também abriga os críticos que detonavam os livros do Paulo Coelho ou os discos da Preta Gil. Vivem uma vida bem classe média. Nunca chegarão ao Paraíso, mas também não queimarão a bunda nos andares mais baixos do Inferno.

2º círculo (luxuriosos, sedutores e sacanas em geral): é onde ficam os jornalistas que sempre tentaram comer as estagiárias gostosas da redação. Lá também estão os que gostavam de impressionar as mulheres com o “status” de jornalista, no melhor estilo Bozó, da Rede Globo. No Inferno, vivem isolados, condenados ao onanismo eterno. Ao chegar, recebem uma Playboy da Fernanda Young e um pôster da guerrilheira Dilma Rousseff.

3º círculo (gulosos): é onde ficam os jabazeiros, gente que adorava um bom vinho de presente, uma viagem ao Caribe a convite de alguém, vernissages e bocas-livres em geral. Na morada do Capeta, o único presente que podem receber é o DVD Preta Gil Ao Vivo, autografado pela cantora. Em vez de jantares chiques, vão às festas da laje do círculo, com churrasco de gato, cerveja morna e, claro, muita música da filha do Gilberto.

4º círculo (avarentos): é o espaço reservado aos jornalistas que davam “carteirada” para assistir a eventos esportivos ou espetáculos culturais na faixa. Usavam a velha desculpa de estar a trabalho só para não pagar. No Inferno, são obrigados a viver em uma casa de shows velha, cheia de baratas e sem ar-condicionado. O calor passa dos 50 graus. Ficam o dia inteiro assistindo a um mesmo show, de Suzana Black, a Preta Gil cover.

5º círculo (assessores de imprensa do mal): o espaço é destinado aos que enviavam releases com informações inverídicas, que vendiam uma pauta exclusiva para vários jornais, que ligavam para a redação na hora do fechamento ou eram chatos no follow-up. Como castigo, passam 24 horas ao telefone, recebendo propostas de aquisição de cartão de crédito e internet banda larga. Os assessores do bem vão para o limbo.

6º círculo (vaidosos e competitivos): são os jornalistas que faziam de tudo para conseguir um furo de reportagem, mesmo que para isso tivessem que puxar o tapete de um colega. Sonhavam com prêmios. São os que sonegavam informações aos amigos e se debruçavam sobre a tela do computador para que ninguém descobrisse sua “grande matéria”. Hoje, atuam como rádio-escuta no jornal oficial do Inferno, para ajudar os colegas. O único furo que dão é para o Capeta, mas não precisamos entrar em detalhes.

7º círculo (abutres em geral): local reservado aos sensacionalistas, que alavancavam a audiência de seus noticiários explorando a desgraça e a miséria alheias. Têm a companhia dos invasores de privacidade, paparazzi e afins. É onde vive o Alborghetti. Ele aproveita e me serve um cafezinho. Frio. No Inferno, eles são condenados a editar um tablóide diário em que reportam os próprios castigos a que são submetidos, tudo com muito drama e sofrimento. Afinal, o Capeta também gosta de uma imprensa marrom.

8º círculo (mentirosos e caluniadores): é um grupo formado por pecadores de respeito, que mancham a reputação da crasse. São os que inventavam matérias, criavam factóides, tudo com o objetivo de difamar o outro. Sofrem um dos piores castigos: diariamente são publicadas, no jornal oficial do Inferno, notícias falsas que denigrem a imagem destes pecadores. Sem direito de resposta.

9º círculo (vendidos e subornadores): estão no nível mais baixo do Inferno, os pecadores de alta periculosidade. São os que, em vida, tiveram o rabo preso e serviram apenas a interesses obscuros. Lá também estão os que publicavam informações mediante vantagem financeira e os que subornavam fontes em troca de privilégios. São os que ardem nas profundezas. No Inferno, até tentam negociar algum tipo de benefício, mas o Capeta, que não é bobo, não dá a mínima. Só faz aumentar o tamanho da labareda.



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