Coisas e Coisas
O ANO DOS UTILIZADORES PRODUTORES DE CONTEÚDO
Para Jon Pareles, do Observer de hoje (copyright do New York Times), 2006 foi o ano dos utilizadores produtores de conteúdo. A mais preciosa indicação de tal foi dada pela compra, por Rupert Murdoch e pela Google respectivamente, do MySpace e do YouTube, aquisições que valeram mais de dois milhões de libras.
Os oráculos da alta tecnologia previam há muito que a internet democratizaria a arte e outros dicursos desde que se estabelecesse a distribuição global instantânea. Galerias de arte virtual, canções gratuitas, videoblogues, romances on-line e excertos de filmes seguiriam a expansão da internet e da banda larga. A criatividade do fazer superou a possibilidade do ver.
Assim, a frase do ano (buzzword) foi conteúdo gerado pelos utilizadores, conceito que lembra o instinto tecnocráticos dos investidores mas que o jornalista prefere traduzir por expressão pessoal. Fora a terminologia, acrescenta, todos estão de acordo: patrões dos media tradicionais, donos dos media on-line e milhões de utilizadores da internet usam essa possibilidade de produzir, guardar e publicitar conteúdos. Blogues, software gratuito (open source), wikis colaborativos e páginas pessoais atingem todo o mundo. Muitos usam as tecnologias de modo incipiente - ou usam-na de modo insuficiente, como quem compra um gravador de vídeo e trabalha com uma percentagem pequena dos modos de programação -, mas tudo está ao alcance de um simples clicar do rato.
Embora se possa considerar que a produção de conteúdos pelos utilizadores seja mais antiga do que o movimento deste ano, o novo é que tal produção de conteúdos pode ser feita a partir de casa. Antes, havia uma espécie de isolamento geográfico; agora, as tecnologias reforçam os laços entre o artista profissional e a audiência. Se as entidades produtoras majors gastam milhões de dólares em promoção (filmes, discos), as gravações de baixo custo em produção e distribuição têm um canal excelente - a internet. Esta promove produtores de conteúdos desconhecidos que, se tiverem adequados gatekeepers (promotores), chegam ao sucesso mais rapidamente que os artistas promovidos nos canais tradicionais.
Será que a produção de expressão própria afecta a cultura num sentido mais geral e vasto? Para além da resposta positiva, o jornalista tem um olhar cínico. Sim também é bom para os patrões dos media tradicionais. Como? O processo de selecção - descobrir novos talentos - corre dentro das suas próprias empresas. A selecção, um processo que consome tempo e dinheiro, foi adjudicado a terceiros (outsourcing). Para além da produção de conteúdos pelos utilizadores há também filtros de conteúdo, com sítios a, por exemplo, criarem novos top ten. E mantém-se a questão de origem: será que, por se aceder mais facilmente, se produzem melhores conteúdos? Ou tudo desemboca num espírito empreendedor igualmente comercial?
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