No dia em que sonhei com Chagall
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No dia em que sonhei com Chagall


Um dia sonhei com a pintura de Marc Chagall, Window on the île de Bréhat (1924), existente no Kunsthaus Zürich, museu que não conheço. Isto é, o modo como vemos uma paisagem que combina a cidade com o campo, o mar e a natureza, a partir de um ponto fixo como uma gruta. Lembro-me do colorido do sonho, que me deixou a pensar como seria fantástico esse mundo. Vitebsk, a cidade russa de Chagall tinha uma forte comunidade judaica no tempo em que ele nasceu, cidade que preservava uma forte tradição que constituia o suporte da sua identidade. Ritos e costumes ofereciam uma forte resistência à inovação. Na pintura de Chagall, a cidade em perspetiva ou em planos inclinados pode indicar como isso teve significado, porque mostra o antagonismo provocado na estética de rutura do artista. Elementos como animais quase antropomórficos (galo, cabra, burro), violinos ou violoncelos e a ocupação da tela como se fosse uma pintura medieval que conta uma história em vários espaços (e que a banda desenhada e a manga japonesa disputam em certa medida) ampliam mais essa luta do novo contra o velho, que acompanham uma produção de quase oitenta anos. A cor (verdes, azuis, vermelhos), o sagrado (Bíblia), os contos e as fábulas (La Fontaine), numa combinação pitoresca mas satírica, atraem-me. E igualmente as incursões no cubismo e no surrealismo, que libertam ainda mais o lado onírico, de que o circo é uma fantasia libertadora. E ainda as ilustrações para livros. A guerra e o êxodo aparecem muito representados, com o seu lençol de mortes, destruição, mágoa e cores fortes. Gosto menos das suas incursões na cerâmica, escultura e artes do vidro, mas isto tem a ver com a minha forma de olhar o mundo. Rússia e França, as pátrias de Chagall, agora numa exposição temporária no Thyssen-Bornemisza e Caja de Madrid.



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