Michael Schudson foi, para uma assistente ao seminário dado por ele na semana passada, a (sua) bibliografia ao vivo. Leitora profícua dos trabalhos de Schudson, ela seguiu atentamente o que o sociólogo dizia, no seu tom sereno e lento, muito contido, transparecendo pouco as suas emoções.
Que me ficou dele? Foi a primeira vez que veio a Portugal, a avenida da Liberdade lembrou-lhe Paris (Champs Elysées), gostou de andar a pé pela baixa lisboeta, viu o castelo de S. Jorge e o museu do Chiado, andou de metro e deu entrevistas (ao Público e à SIC sei que deu). Proferiu uma conferência na FLAD (Fundação Luso-Americana) e deu nove horas de seminário de Sociologia do Jornalismo a alunos de doutoramento e mestrado da UCP.
Antes de o conhecer, o perfil que eu tinha dele era o de historiador e sociólogo do jornalismo, em especial a imprensa. Mas rapidamente percebi outras características na sua investigação: cidadania, participação cívica, democracia, jornalismo. Retive logo o seu amplo conhecimento pela história americana, pelos pais fundadores e como a democracia americana é peculiar: eleições com churrascos, festas, procissões. Se o ponto forte de Schudson é o conhecimento da América, a sua fragilidade é a de conhecer menos bem a realidade europeia (em que Portugal se dilui, claro).
A sua investigação incide na imprensa, como escrevi acima, mas refere com frequência a televisão. Se dá menos espaço à internet, considera a importância de haver quem seleccione a vasta informação nela disponibilizada, à imagem da abertura do seu livro The power of news: os jornalistas continuarão a ser precisos para seleccionar e interpretar alguns dos acontecimentos, organização fundamental quando há milhares de ocorrências e não existe tempo de atenção para todos.
Fixei também o método de ensinar. Faz uma pequena introdução, aponta os textos a discutir, escreve tópicos no quadro e vai procurando envolver os alunos. Às perguntas respondeu lentamente: enquadrava a questão, dava um apontamento, argumentava. Do que disse percebiam-se os seus livros: Discovering the news, The power of news, The good citizen. Falou menos dos assuntos do livro The sociology of news, embora destacasse o papel das fontes de informação. Traçou sete pontos em que o jornalismo pode ajudar a democracia (mobilização, informação, investigação, explicação, empatia social, fórum público, ensino da democracia), desenhou um esquema de profissionalismo (o vídeo, de cerca de 11 minutos, foi retirado da sessão de 16 de Abril).
Mal chegou a Portugal, quis conhecer o perfil dos estudantes do seminário, que jornais nacionais e locais havia e como era a televisão (ficou mais interessado quando soube que shows de informação americanos passam nos canais de cabo portugueses). No seminário falou frequentemente do New York Times e do Los Angeles Times e dos media da sua cidade californiana San Diego e das eleições quer no seu estado quer das presidenciais deste ano.
Agora que vou reler Schudson, vou fazê-lo lembrando-me da sua voz e do modo de explicar os temas. Aprendi muito.
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