José Saramago
Coisas e Coisas

José Saramago


"Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens"

Este blogue está de luto pela morte de José Saramago no dia de hoje (Azinhaga, 16 de Novembro de 1922; Lanzarote, 18 de Junho de 2010), aos 87 anos.

Saramago foi o único escritor em língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de literatura, fato ocorrido no ano de 1998. Tendo lido quase uma dezena de suas obras, considero Saramago como um dos maiores literatos do século. Particularmente aprendi muito na leitura de suas obras sobre diferentes e novas formas de expressar em nossa língua pátria -- tanto em forma quanto em conteúdo, tendo o autor inovado a escrita do português sintática e semanticamente. Seus diálogos contínuos e surreais, sua ausência totalmente compreensível de pontuação (segundo aquela pregada pelos gramáticos), sua clareza lógico-argumentativa e sua moral humanista invejável fazem dele um dos meus maiores ídolos, ser humano modelo, grande personalidade. Em seus "Cadernos de Lanzarotti", Saramago publicou crônicas e criticas ferrenhas da sociedade moderna, da massificação, da intolerância religiosa e das políticas colonizatórias norte-americanas; atuando sempre em defesa da paz entre os indivíduos e povos. Teria sem dúvida merecido também o Nobel da paz se tivesse sido levado verdadeiramente a sério.


Este blogue está de luto pela morte do escritor português José Saramago, um dos maiores escritores em língua portuguesa de todos os tempos e ganhador do prêmio Nobel de literatura.


Neste mesmo blogue, o grande escritor já havia sido citado em diferentes postagens, a saber:

* 10/09/2006 -- Saramaguiologia
* 09/01/2009 -- Crítica breve e elogio da obra A viagem do elefante
* 08/08/2007 -- Minha biografia literária

Neste ano tive o prazer de ler duas obras do autor. Pelo fato dele ter publicado a novela "Caim" (2009), aproveitei a deixa para retornar a um de seus mais clássicos livros sobre o qual ainda não tinha me debruçado. Assim, li seguidamente em janeiro e fevereiro deste ano suas duas obras sobre as religiões: "O evangelho segundo Jesus Cristo" e "Caim". Nelas Saramago apresenta suas críticas sobre as religiões institucionalizadas e as supostas morais que julga enviesadas na cultura ocidental com relação ao conceito de deus, do diabo, do paraíso, pecados e mártires. A teologia de Saramago evidencia -- com beleza e elegância -- vários dos erros cometidos por uma cultura cristã retratada sutilmente como preconceituosa, amedrontada e enviesada de um ideal humanista maior. As imagens de um deus possessivo apresentando uma moral rígida e absolutamente questionável é apresentada face-a-face à imagem de um suposto crítico da teologia divina de mais alta sensibilidade e carisma, visto entretanto com desconfiança pelos homens. Estes são os personagens que guiam a vida do humano Jesus Cristo, deus e o pastor, no recomendado "O evangelho segundo Jesus Cristo".

Saramago morre, mas as desventuras de Tertuliano Máximo Afonso, protagonista doppleganger do romance "O homem duplicado" já estão eternizadas nas linhas e na historiografia da literatura em língua portuguesa. Tampouco a história da ganância dos homens, escancarada de forma magistral na obra "Ensaio sobre a cegueira" serão esquecidos. Neste clássico romance em língua portuguesa, toda a história é apresentada sem se dizer o nome de uma só personagem; e sem que isso perturbe a narrativa de forma notável; muitos leitores sequer tomam conta disso e veem como natural chamar os personagens de médico, mulher do médico, o primeiro cego, etc. Em suas "Intermitências da morte", a argúcia esplêndida da personagem Morte aguça a inteligência do leitor, tais quais as críticas do cornaca Subhro ao atravessar um elefante pela Europa ou mesmo as desventuras de suas versões críticas de Caim, Abel, Jesus Cristo, deus e o diabo -- fazendo do autor talvez o maior nome da literatura contemporânea mundial. É claro que Saramago também sofreu críticas vindas de pessoas e instituições de visões dogmáticas com relação à igreja e seus ícones, que Saramago retrata e respeita sem deixar de apresentá-los de forma sincera e apaixonante. A teologia deste afamado escritor português, entretanto, defende valores éticos e morais de forma exímia.

O legado de Saramago sobreviverá certamente por muitos anos, décadas, quiçá séculos. Sua esposa, fiel escudeira e alvo de simplesmente todas as dedicatórias, Pilar del Río, será responsável por manter viva a lembrança, as idéias e o humanismo saramaguiano.

No sítio principal da fundação José Saramago, vê-se hoje os seguintes dizeres:

Hoje, sexta-feira, 18 de Junho, José Saramago faleceu às 12.30 horas na sua residência de Lanzarote, aos 87 anos de idade, em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença.
O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila.

Fundação José Saramago
18 de Junho de 2010


Em Brasília, estamos tristes e prestamos luto ao grande escritor português.



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