Coisas e Coisas
JORNADAS SOBRE JORNALISMO
Realizaram-se hoje, na Universidade Fernando Pessoa, as
II Jornadas Internacionais de Jornalismo, cujo organizador foi o incansável Jorge Pedro de Sousa, docente daquela escola. Em meu entender, foi o melhor encontro realizado naquele local. Por isso, parabéns ao organizador e à universidade.
Destaco a intervenção de Barbie Zelizer, professora de comunicação na Annenberg School for Communication (cátedra Raymond Williams), da Universidade de Pennsylvania (Filadélfia). Sendo o tema de debate "porquê estudar o jornalismo", Zelizer apontou a necessidade de ouvir vozes diferentes, com avaliação das bases conceptuais e sugestão de meios para ajustar os métodos de inquirir. Tudo dentro de um conceito de triangulação: jornalistas, pedagogos e académicos.
Por um lado, o jornalismo desempenha um papel crescente na crítica dos problemas da sociedade, pelo que tem de adquirir uma capacidade técnica de trabalhar com redes de novo tipo. Se os jornais estão a perder leitores, que fogem para outros meios como os canais de televisão por cabo ou os blogues, os jornalistas precisam de se interrogar. Por outro lado, para além de destacar a importância da movimento associativo de classe e da produção literária em torno do jornalismo, também chamou a atenção para as áreas científicas de formação do jornalismo, tais como sociologia, história, estudos linguísticos e análise cultural.
A 20 de Julho do ano passado, escrevia aqui sobre o livro de Barbie Zelizer Taking journalism seriously (2004), que serviu de base à sua comunicação de hoje:
"O seu ponto de partida é que o estudo do jornalismo provém de diferentes comunidades interpretativas, devido às diversas disciplinas que se têm proposto analisar. Comunidade interpretativa quer dizer que um fenómeno é interpretado, é resultado da leitura de textos interpretativos que reflectem perspectivas e argumentos diferentes conforme a comunidade. O objectivo da comunidade interpretativa não é resolver um problema mas compreender o significado. Num livro muito bem feito, Barbie Zelizer aborda o jornalismo a partir das disciplinas enunciadas acima. Confesso que estou mais perto da interpretação sociológica, dado tê-la trabalhado mais frequentemente, mas reconheço a importância igual de outros campos, como a ciência política e os estudos culturais. A autora opõe-se, embora o elenque especificamente, à ideia de fim do jornalismo (pág. 204), cujas principais características são o aparecimento da CNN, a orientação dos jornais para o mercado e o seu decréscimo em termos de tiragens, o infotainment, a luta pelas audiências em televisão, o peso crescente da reality tv, o fim da objectividade e a incapacidade dos jornalistas protegerem as suas fontes. É que o seu interesse basilar consiste em saber como falam os jornalistas da sua actividade e como os investigadores observam o jornalismo (profissão, instituição, texto, pessoas e conjunto de práticas)".
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