FRAUDE LITERÁRIA
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FRAUDE LITERÁRIA



Há 35 anos, Nixon mandara ilegalmente escutar o que se dizia no congresso dos democratas (hotel Watergate), processo que mais tarde resultou na sua resignação ao cargo de presidente dos Estados Unidos.


Quase nessa mesma altura, um romancista de novelas e de uma biografia de um falsificador de quadros, Clifford Irving, estava a publicar uma biografia do milionário e excêntrico Howard Hughes, garantindo ter a autorização devida para o fazer. Editora: McGraw-Hill. A revista Life, então a perder leitores, comprou os direitos para a sua pré-publicação.

Mas provou-se ser uma fraude. Quase perfeita, envolvendo um outro romancista, que fazia o trabalho de pesquisa, Richard Susskind. Para além dos dois autores, apenas a quinta mulher de Irving e uma antiga namorada deste, Nina van Pallandt, do antigo duo dinamarquês Nina & Frederick, sabiam da falsidade. Irving forjara cartas de Hughes imitando a sua forma de escrever.

Estava-se entre o final de 1971 e o princípio de 1972, quando o próprio Howard Hughes, homem ligado aos media, aviador e excêntrico, desmentiu ter autorizado a escrita do livro. Curioso é que - nota Philip French na sua coluna de cinema na edição de hoje do Observer - nessa semana de Janeiro de 1972 o filme mais visto nos Estados Unidos se chamava Diamonds are forever, em que James Bond visita Las Vegas e protege um milionário que vivia recluso chamado Willard White, claramente inspirado em Hughes.


Clifford Irving foi julgado e preso, a sua mulher igualmente presa na Suíça, por movimentar a conta do dinheiro antecipado pela editora para pagar ao milionário [fotografias de Irving, Hughes e Susskind retiradas do sítio Crime Library].

O filme Golpe quase perfeito tem Richard Gere e Alfred Molina como interpretando os papéis dos dois escritores. Realizado pelo sueco Lasse Hallström, autor de outros filmes como Chocolate e Regras da casa, Golpe quase perfeito é um filme agradável de ver. Isto apesar do próprio Irving declarar que a história é inexacta.

Na história do filme é clara a dupla realidade traçada por Clifford Irving: a realidade propriamente dita e a recriada por si. Esta passava pela gravação de conversas inexistentes e por igualmente inventada violência exercida por colaboradores directos do milionário sobre o escritor.

Um último pormenor também curioso é o da antiga namorada de Irving, a dinamarquesa Nina van Pallandt, ter ganho com a visibilidade do caso. Ela foi convidada para entrar no filme de Altman The long goodbye (1973) e desempenhou o papel de uma das clientes de Richard Gere no filme American gigolo (1980).




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