Coisas e Coisas
Festa de jornalista
Tem de todo tipo, mas festa de jornalista clássica é festa com ares de clandestinidade, que rola na casa de alguém.
O pessoal vai chegando aos picados, cada um à sua hora, ou melhor, cada um à hora do seu fechamento. O ingresso é uma bebida, ou mais bebidas, cerveja long neck, vodca, rum para os mojitos. Come-se pouco, mas se bebe demais, sô! É um abre geladeira, fecha geladeira, abre geladeira, fecha geladeira. A cozinha parece sacristia de igreja em dia de missa. Uma agitação só. Fuma-se também, principalmente aquela ervinha boa pra relaxar. Às vezes, fuma-se coletivamente, na sala, seda recheada que passa de mão em mão. Às vezes, busca-se clandestinidade ainda maior, no banheiro, no quartinho da empregada.
Tem gente que chega sozinha, tem gente que carrega um amigo não-jornalista a fim de se divertir com aquele povo excêntrico – eufemismo para esquisito. As pessoas vão se juntando pelos cantos, no sofá, no chão, entre as almofadas. A noite começa mais animada, com sons eletrônicos variados, e acaba com Chico ou Lou Reed. Os mais jovens insistem com Los Hermanos. A menina de saia florida e cabelinho loiro e crespo sempre leva o CD de seu grupo de maracatu – quase só de mulheres –, atração da Vila Madalena. Às vezes, leva o grupo, para uma canja no quintal.
Por causa da música, as conversas são múltiplas e ficam restritas, cada uma, aos pequenos grupos que se juntaram pelos cantos. Tem jornalistas de empresas concorrentes que só se encontram na loucura das pautas e na loucura das festas. Tem o sujeito que, empolgado com a vida, com a vodca e com a matéria de capa que conseguiu, pega um livro do Cortázar na estante e começa a ler algumas de suas histórias pela sala. Tem um amigo de jornalista não-jornalista louco pra comer a moça de óculos, vestido xadrez e meias verdes até os joelhos. É a grande oportunidade de uma foda intelectual para curtir a lembrança boa pelo resto da vida. Ou se arrepender na mesma noite. Mas a moça só tem ouvidos para o rapaz que fala de cronópios e famas.
As festas clandestinas de jornalista não têm dia certo para acontecer. Fim de semana, segunda, terça. Nem hora certa para chegar ao fim. Mesmo com trabalho no dia seguinte. Tem vizinho chato que liga pra polícia pra acabar com a putaria. Mas tem também vizinho gente boa que se junta à galera dos jornalistas. Para uma cervejinha, um cigarrinho e para ouvir as meninas de saia florida com seus agbês e ganzás no quintal.
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