Coisas e Coisas
A festa da firma
Na minha época de redação, dezembro chegava sempre agitado. Era o tempo de decidir a escala especial de folga do fim do ano – quem trabalha no Natal e quem trabalha no Ano Novo. Sobravam divergências e eventual ofensa à mãe alheia. Mas dezembro também era um tempo alegre, era tempo da festa da firma.
Após passar o ano inteiro explorando os pobres funcionários, principalmente os jornalistas, o dono do jornal decide promover uma festança. Para alguns, é um lampejo de humanidade do patrão, mas, para mim, é pura estratégia. Ele sabe que o jornalista é facilmente seduzido por uma boca-livre. Alimente um jornalista e ele se tornará seu amigo, dizia um filósofo de botequim. Ele esquecerá até que nunca lhe pagaram as horas extras trabalhadas.
A festa da firma é, portanto, um clássico exemplo da política “pão e circo”. Mas quem se importa com isso? Adoramos comida e bebida fartas, show com banda ao vivo e até sorteio de prêmios. Na minha época, começavam com brindes institucionais e acabavam com o prêmio máximo da noite, a cobiçada semana com a família numa colônia de férias em Mongaguá. Eu, que nessas ocasiões sempre preferi o pão ao circo, cheguei a criar um grupo de amigos batizado de “a nuvem dos gafanhotos”, que perambulava pelas mesas de comida deixando só devastação.
O evento de confraternização é uma excelente ocasião para os jornalistas interagirem com pessoas de outros departamentos, coisa rara, como a turma do administrativo e a turma do comercial, esta também chamada de “os vendedores de anúncio”. Quase todo jornalista vai à festa, até mesmo aqueles que nunca conseguem um alvará da patroa para as bebedeiras habituais pós-fechamento. Só não aparece a ala dos intelectuais, jornalistas que acreditam que a festa da firma não passa de uma forma primitiva de entretenimento, regada a axé music, cerveja e suor. Sociologicamente falando, é claro.
Na festa da firma, muita gente perde o pudor, se revela, paga mico ou arruma confusão, mesmo porque as taxas de sangue no álcool ficam baixíssimas. A vantagem de ficar um pouco sóbrio é poder testemunhar todas as aberrações da noite e ter matéria-prima para fofocar com os colegas no dia seguinte. Jamais esquecerei a festa em que o foca do caderno de Variedades, aquele moço tímido e de poucas palavras, foi subitamente arrebatado pela música do Abba, subiu na mesa, arrancou a camisa, rebolou como uma lagartixa e gritou: “I am the queen, I am the dancing queen!”. Depois disso, nunca mais foi visto na redação.
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