Eu, ranzinza
Coisas e Coisas

Eu, ranzinza


Tomando uma cerveja com um amigo, conversávamos sobre o meu blog. Quanto mais álcool entra em nosso sangue, mais sinceridade escapa de nossa boca. “Duda, você sempre foi um cara otimista, mas, lendo alguns de seus posts, notei que você está muito ranzinza, com a nossa profissão, com a vida. Cara, você ficou mais chato que taxista”, disse-me ele. Como ele estava pagando a cerveja, ouvi a crítica e não reclamei. No fundo, estava certo. Estou ficando um velho ranzinza. Mas será que um pouco de insatisfação é tão ruim assim?

A conversa de bar fez lembrar-me de um ensaio do escritor peruano Mario Vargas Llosa, publicado na edição de outubro da revista Piauí, uma defesa do romance, da literatura. Entre outras coisas, Llosa fala do poder que a insatisfação humana, muitas vezes despertada pelos livros, tem de transformar o mundo. Talvez eu nem faça literatura – muitos dizem que blog não é literatura –, mas, ainda assim, acredito que posso, com as minhas palavras, desenvolver nos leitores “uma sensibilidade inconformista em relação à vida”, como escreve Llosa.

A seguir, destaco um trecho do ensaio que achei interessante:

“Viver insatisfeito, em luta contra a existência, significa empenhar-se, como dom Quixote, bater-se contra os moinhos de vento, condenar-se, de certa forma, a viver as batalhas travadas pelo coronel Aureliano Buendía, em Cem Anos de Solidão, sabendo que as perderia todas. Isso é provavelmente verdadeiro; mas também é verdadeiro que, sem a revolta contra a mediocridade e a sordidez da vida, nós, seres humanos, ainda viveríamos em condições primitivas, a história teria acabado, não teria nascido o indivíduo, a ciência e a tecnologia não se teriam desenvolvido, os direitos humanos não teriam sido reconhecidos, a liberdade não existiria, porque tudo isso nasceu de atos de insubmissão contra uma vida percebida como insuficiente e intolerável.”

Estou decidido: em 2010, continuarei um cara ranzinza, insuportavelmente ranzinza.



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