Coisas e Coisas
Uma busca pelo entretenimento social
Pois que estava lendo "Cem anos de solidão" e me dei conta de uma coisa: vários personagens tinham por costume fazer determinada coisa e depois desfazê-la, para então fazê-la novamente. O Coronel Aureliano Buendía em certo momento, fazia seus peixes de metal, desfazia-os e então os fazia novamente. Com Amaranta ocorre o mesmo: ela fazia o manto fúnebre para cobrir Rebeca -- se não me engano, em meio a tantos personagens -- quando essa morresse e então o desfazia para recomeçar a fazê-lo.
Tenho a impressão de que esta é uma
crítica ao entretenimento improdutivo feita por GG Marquez, ainda que não intencionalmente -- vá lá saber... As pessoas, de uma certa forma, precisam ter alguma ocupação, algo para fazerem e gastarem seu tempo ao invés de ficarem
ociosas, afinal já faz tempo que temos recursos excedentes e não precisamos suar para encontrar comida ou proteger nossos filhotes. Percebo, talvez errônea ou preconceituosamente, que alguns tipos de entretenimento existentes hoje, como os videogames e as palavras cruzadas, para citar alguns poucos exemplos que vêm agora à mente, são exemplos de fazer-refazer não tão óbvios, mas fundamentalmente semelhantes ao coser-descoser-recoser e ao modelar-desmodelar-remodelar peixes de metal. Meros passadores-de-tempo. Você concorda ou discorda?
No meu caso específico, sou particularmente avesso a videogames e também às palavras cruzadas, pois me sinto perdendo meu tempo ao fazer algo inútil e improdutivo. Tenho uma certa paranóia de que todo meu curto tempo de vida deve ser aproveitado com coisas que sejam úteis, a saber: ciência, filosofia, amor, educação, literatura -- não necessariamente nesta ordem -- e, talvez mais importante que tudo isso: a diversão. Para mim é imperativo o fato de que:
nada faz sentido de ser feito, se não nos divertimos para fazer. Aqui me divirto. Ao mesmo tempo, perder meu tempo não me diverte.
Outros, só agora isso me passa pela cabeça, talvez se
divirtam com videogames ou palavras cruzadas, o que tornaria, para eles, o tempo gasto nessas atividades como
tempos úteis relacionados à obtenção de prazer; prazer este que parece variar segundo definições pessoais. (Pois que comecei querendo relatar sobre a inutilidade de certos tipos de entretenimento e agora minha teoria se volta contra mim: vejo que estúpidos entretenimentos podem ser bons para um indivíduo que se divirta com eles.)
Conclui-se, portanto, que o entretenimento improdutivo que gera diversão do entretido, faz com que a suposta improdutividade de uma determinada tarefa torne-se produtividade pessoal para aquele indíviduo, já que todos precisamos nos divertir para que nossa existência seja melhor do que nossa não-existência -- haja vista que a taxa de suicídios não anda lá tão alta. Além, portanto, de finalmente ter me permitido entender porque as pessoas jogam videogame, esta postagem mostra como uma tão simples coisa como um entretenimento qualquer pode salvar a vida dos medíocres que não têm nada maior com que se importar.
Ainda assim devo enviar minhas saudações mais efusivas àqueles cujo entretenimento pessoal -- diversão -- passa por um trabalho social ou intelectual que gerará bens diretos ou indiretos à sociedade. É isso que prezo e é isso que tento fazer com meu tempo de diversão. Imagine se todo o tempo de ócio das pessoas em geral, fosse convertido em algum bem à sociedade... viveríamos em um mundo muito melhor.
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