Coisas e Coisas
DIGITALIZAÇÃO NO SECTOR DA COMUNICAÇÃO (RELATÓRIO PRELIMINAR)
A primeira fase de investigação do projecto A digitalização no sector da comunicação: Um desafio europeu encontra-se já sintetizada em relatórios preliminares nacionais. O projecto envolve Portugal - através do CENJOR e do Sindicato dos Jornalistas (SJ) -, Espanha, Chipre, Noruega e Roménia. Com investigação coordenada por Fernando Cascais (CENJOR) e José Luiz Fernandes (SJ), os seus objectivos são a análise dos processos e das consequências da digitalização no sector dos média e a identificação de novas necessidades de formação. Apoiado pelo programa europeu Leonardo da Vinci, o projecto iniciou-se em Outubro de 2005 e termina em Setembro de 2007.
A digitalização implica as tecnologias relacionadas com os conteúdos editoriais trabalhados pelos media tradicionais, como a imprensa, rádio e televisão, e pelas publicações electrónicas on-line. Se conteúdos editoriais significam actividades distintas como jornalismo, entretenimento, publicidade e marketing, o texto agora publicado coloca o conceito conteúdo editorial dentro da esfera da profissão do jornalismo, apesar de a alargar às funções e profissões directamente relacionadas com a produção material das peças jornalísticas.
Logo: conteúdo editorial é qualquer texto, imagem ou som publicados com fins informativos, por agência noticiosa, imprensa, rádio, televisão e outros media electrónicos, como resultado da pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos ou opiniões feitos por jornalistas, dentro dos princípios deontológicos da profissão. Isto engloba funções como editor, repórter, fotojornalista, repórter de imagem de televisão e apresentador, mas também técnicos de litografia, técnicos de sistemas de informação, operadores e regentes de emissão.
Segundo o texto que estou a seguir, a introdução de tecnologias digitais nos media nacionais começou em 1983-1984, com a entrada de computadores nas redacções dos jornais. Já no final da mesma década, todas as redacções dos grandes jornais estavam informatizadas, com uma profunda alteração a nível profissional (os tipógrafos saíam de cena, eles que durante décadas tiveram um grande poder na cadeia de valor da imprensa) e desaparecimento de jornais – entre 1987 e 1993 – como Tempo, Diário de Lisboa, O Diário e Diário Popular, uns nascidos antes da mudança de regime (1974) e outros fruto da democratização, enquanto O Jornal dava origem à newsmagazine Visão. Outros jornais diários eram reprivatizados (A Capital, Jornal de Notícias, Diário de Notícias) enquanto uma rádio (Comercial) seguia o mesmo caminho e apareciam canais privados de televisão (SIC, TVI).
Na segunda metade da década passada, a internet potencia e acelera a digitalização, continua o mesmo texto. Se todos os media criaram projectos autónomos on-line, a sua rentabilidade não foi conseguida. Exceptuaram-se o Diário Digital, o primeiro jornal digital nascido em 1999, e sítios ligados à Media Capital, agregados na marca IOL.
Na televisão, a RTP tem equipamentos digitais desde 1998, renovados por outros em 2002-2003, mas em pouca quantidade dado o investimento elevado, o mesmo sucedendo com a SIC, que suspendeu a adopção total do sistema Newsplex por limitações orçamentais. Na grande imprensa, já está generalizada a integração digital do processo de edição e desenho das publicações e a transmissão electrónica a distância das páginas, permitindo a edição regional. Por seu lado, a TSF disponibiliza emissões em podcast desde o começo deste ano.
Portabilidade e mobilidade são palavras da presente agenda. Em todos os fóruns se fala da substituição da informação em papel pela digital, em ecrãs recarregáveis com informação, o novo papiro. Além disso, com o advento das tecnologias digitais, processa-se a integração de várias funções num só equipamento, o que torna possível a execução por um só operador de funções até aí distribuídas a várias pessoas. Como se escreveu atrás, desapareceu uma parcela da produção gráfica. Por outro lado, em empresas grandes como a RTP, a digitalização terá sido responsável pela redução de quadros, de 2800 para 2000. Mais especificamente, o trabalho dos compositores de texto passou para os jornalistas, os revisores foram substituídos por software de correcção e os maquetistas e paginadores por programas informáticos.
A digitalização traria maior poder aos jornalistas, alargando as suas funções. Com a substituição da máquina de escrever pelo computador, o jornalista passou a assegurar a composição do texto e, com software novo, a edição de fotografia e a paginação, o que eliminou alguns passos na cadeia de produção da actividade. No caso da rádio, os jornalistas passaram a editar sons, através de software instalado. O mesmo aconteceu na televisão, com o jornalista a editar imagens e a enviar imagens por satélite ou videotelefone. Ao alargamento de funções pode corresponder um acréscimo de remunerações, embora haja casos da necessidade de novos investimentos, como com os fotojornalistas, que tiveram de comprar novos equipamentos fotográficos, abandonando os de tecnologia analógica.
Conclusão: as alterações trouxeram o desaparecimento de profissões e o surgimento de outras, com novas oportunidades e novas necessidades de formação, de que se destaca o CENJOR, Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas, com uma vertente mais prática na formação de jornalistas, com adaptação à evolução tecnológica.
O texto aqui referenciado tem ainda um conjunto de anexos, propondo a identificação de mudanças e tendências, diagramas síntese de alterações provocadas pela digitalização e identificação de actividades e competências.
O meu agradecimento a Fernando Cascais, do CENJOR, pelo envio do relatório, permitindo-me actualizar o conhecimento que tinha sobre a matéria.
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