CULTURA DO QUOTIDIANO EM PAUL WILLIS
Coisas e Coisas

CULTURA DO QUOTIDIANO EM PAUL WILLIS


Paul Willis, que vem dos cultural studies de Birmingham, tem um momento alto com o texto Common Culture (1990). Para ele, a cultura comum – gostaria de traduzir por cultura do quotidiano – diz respeito ao uso que os jovens fazem dos bens culturais e dos media culturais. Tais usos podem ser classificados nas categorias de trabalho simbólico, criatividade simbólica e extensão simbólica. Para ele, estas categorias encaixam-se analiticamente na cultura do quotidiano e utilizam as noções de trabalho, pós-modernismo, estética, cultura popular e teoria social.

O texto aqui comentado (Notes on common culture. Towards a grounded theory) segue esse livro. Por trabalho simbólico, Wallis entende que as pessoas enquanto vêem televisão estão a fazer outras coisas, fazem interacções simbólicas e físicas. Por criatividade simbólica, o autor considera que o estilo e a moda são apropriados individualmente com significados pessoais. Por extensão simbólica, ele significa que a apropriação do significado individual é transferida para outros elementos além do indivíduo.

A cultura comum, do quotidiano, distingue-se da cultura tradicional (práticas diárias e habituais) e da cultura popular (produtos). Assim, a cultura do quotidiano implica o uso criativo e com significado dos media e dos objectos de uso corrente (o vestuário, por exemplo), eliminando as noções mais velhas de cultura de classe média, popular e regional. No caso dos jovens, a cultura do quotidiano quer dizer uso das tecnologias electrónicas. Isto ilustra o quanto Willis continua próximo dos cultural studies ingleses, ele que concluiu o doutoramento em 1972 em Birmingham, no Centre for Contemporary Cultural Studies (a tese foi publicada em livro, Profane Culture, Routledge & Kegan Paul, 1978).

Paul Willis destaca outro conceito, o de estética de base (grounded aesthetics), que eu prefiro traduzir por estética do quotidiano, vista como renovação e revitalização da ideia tradicional de estética. Por um lado, a estética do quotidiano significa o uso de bens e produtos comuns e opera com ideias como descentralizar, multiplicidade e heterogeneidade, explorando novas possibilidades. Por outro lado, recupera a ideia original grega de estética, o emprego dos sentidos (e ainda da sensualidade), requerendo contacto – dança, vestuário, conversa.

Há, pois, uma nova dimensão da estética, a do quotidiano, se quisermos, utilizando o banal, o vulgar. Não sei se Willis pensou na dimensão do gosto e do kitsch, mas a sua apreciação sobre a cultura do quotidiano leva-me a aproximar estes conceitos. O novo tipo de urbanização, a perda das grandes narrativas (pós-modernidade), o descontruccionismo, as tecnologias informáticas, a chamada globalização (comércio, viagens, internet) contribuem para essa cultura do quotidiano.

Logo no começo do seu texto, Willis chama a atenção para um estudo que fez para a Fundação Gulbenkian em 1988-1992. Publicou nomeadamente Moving Culture (London, Gulbenkian Foundation, 1990).

Disponível aqui o seu texto Symbolism and practice. A Theory for the Social Meaning of Pop Music. Para saber mais do seu currículo, ver aqui.

Leitura: Paul Willis (1998). "Notes on common culture. Towards a grounded theory". Cultural Studies, 2: 163-176



loading...

- Estudo Das AudiÊncias Segundo Alasuutari
Pertti Alasuutari (1999) fala em três gerações de estudos de recepção (audiência) e etnografias de audiência. Refere igualmente a riqueza da investigação nesta área [imagem do autor retirada do sítio da Universidade de Tampere, na Finlândia]....

-
CULTURAL STUDIES – II [continuação de entrada editada ontem, baseada no meu texto “Indústria cultural, tecnologias e consumos”. In Carlos Leone (org.) (2000) Rumo ao cibermundo? Oeiras: Celta] Em livro por si organizado, MacKay (1997) apresenta-nos...

-
JORNALISMO E CULTURA [o texto seguinte, assinado pelo autor, apareceu originalmente na revista JJ – Jornalismo e Jornalistas, nº 13, de Janeiro/Março 2003] Este não é propriamente um livro sobre jornalismo, mas abrange a grande área de intersecção...

-
PÚBLICOS DA CULTURA: TIPOLOGIAS E PRÁTICAS CULTURAIS - II [continuação da mensagem de 30 de Novembro último] Idalina Conde (1992: 156) define um continuum dos consumos habituais e regulares aos consumos de peças, exposições ou concertos...

-
SOBRE OS CULTURAL STUDIES Os franceses Armand Mattelart e Érik Neveu têm escrito sobre o movimento dos cultural studies, de origem inglesa. A primeira empresa sobre a matéria que eu conheço deles foi publicada na prestigiada revista Réseaux,...



Coisas e Coisas








.