Crônica sobre o nome composto
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Crônica sobre o nome composto


- Carlos Eduardo, chega aqui, por favor, chamou meu editor.

Eu, foca, segundo dia de trabalho na redação, fui imediatamente.

- Me diz uma coisa: como você vai assinar a matéria? Carlos Eduardo Rangel mesmo?

- Duda Rangel. Vou assinar Duda Rangel.

- Duda?

- É, Duda, qual o problema?

- Qual o problema? Duda, Cacá, Tetê funcionam muito bem no suplemento feminino, no colunismo social, no caderno de Cultura, mas não aqui. Percebe?

- Desculpa, mas eu sou muito mais Duda do que Carlos Eduardo.

Eu sempre odiei meu nome composto. Nome composto é a ofensa guardada na manga. A qualquer momento o agressor pode usá-la contra o dono do nome, para feri-lo profundamente. “Carlos Eduardo (leia-se “seu moleque estúpido”), vai já pro banheiro se lavar, porque você tá todo lambuzado de cocô do cachorro”, dizia minha mãe na infância. Ou “Eu já falei mil vezes que é você quem coloca o lixo pra fora de casa, Carlos Eduardo (leia-se “seu imprestável”)”, dizia minha ex-mulher. Duda é diferente. Duda é conciso, objetivo, está impregnado de amor materno, de tesão feminino. “Quem é o bebê mais lindo da mamãe? O Duda!” ou “Ai, Duda, assim que eu gosto, fundo, bem fundo.”

Além de ser ofensa, nome composto é feio. Lembra cantor romântico que vai ao programa do Raul Gil: “Vaaaamos aplaudir, Caaaarlos Eduardo”. Ou nome de atração brega de rádio AM: “Carlos Eduardo Show é su-su-sucesso”. Duda pode ser meio gay, eu sei, pode ser unissex, mas é o nome que eu gosto, que eu carrego com orgulho desde a minha infância.

- Então Duda vem desde a sua infância, repetiu o editor.

- Da primeira infância, da pré-primeira infância, do ventre, sei lá.

- Tá certo, esta será sua assinatura então.

Suspirei, aliviado. O jornalista Carlos Eduardo estava enterrado!

- Para ser sincero, prosseguiu o editor, eu imaginei que Duda tinha alguma coisa a ver com numerologia. Sabe essas viadagens?


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