O livro de Benedict Anderson,
Imagined communities, foi publicado inicialmente em 1983. Apresenta um subtítulo extenso:
Reflections on the origin and spread of nationalism.
Anderson (1936- ), nascido na China, educado nos Estados Unidos e em Inglaterra, fez investigação na Indonésia na altura em que se deu o golpe de Estado em 1965 - e pelo seu trabalho conhecido como conhecedor da realidade indonésia - explora os processos que criam as comunidades imaginadas das nacionalidades e dos nacionalismos: territorialização das fés religiosas, declínio dos antigos reinados, interacção entre capitalismo e imprensa, desenvolvimento de línguas vernáculas como suporte dos Estados (da contracapa do livro).
O percurso e as aplicações feitas a partir do livro são variadas e interessantes. Mas aqui importa aproveitar algumas das ideias que se podem aplicar aos media e aos seus grupos: audiências, públicos, consumidores. Claro que tais conceitos em si não surgem no livro, mas a fortuna deste leva-me a apropriar e extrapolar, num sempre alegre e benéfico usufruto das leituras.
Comunidades imaginadas e indústrias culturaisAnderson inicia o seu texto por uma definição de
nação. Dentro do espírito antropológico, ele propõe uma definição de nação como comunidade política imaginada - e imaginada enquanto inerentemente limitada e soberana (1999: 6). É
imaginada porque mesmo os membros da mais pequena nação não se conhecem todos uns aos outros. Por outro lado, é imaginada como
limitada porque até a maior nação possui fronteiras, para além das quais existem outras nações. É também imaginada como
soberana porque nesceu numa época em que o Iluminismo e a Revolução destruiram a legitimidade do domínio dinástico e ordenado por Deus. Finalmente, é imaginada como
comunidade porque as nações assentam sempre numa fraternidade profunda e horizontal.
Comunidade política imaginária, a nação - e a nacionalidade - é um artefacto criado no final do séc. XVIII, a partir de concepções culturais fundamentais, como a da língua sagrada e do livro, associadas ou desenvolvidas pela revolução de Galileu, a descoberta [ou achamento] do Novo Mundo, a revolução da imprensa, o desenvolvimento do capitalismo mercantil. A imprensa vai desempenhar um papel determinante: a sua difusão é geradora da simultaneidade, do conhecimento vivo, da reprodutibilidade e da disseminação dos saberes (Anderson, 1999: 37).
A nação implica necessariamente (ou quase) uma língua própria. O autor estabelece uma relação dialéctica entre a
fatalidade da diversidade linguística, a
tecnologia da imprensa e o
capitalismo. O capitalismo impresso soube explorar cada mercado vernacular e oral potencial. As linguagens impressas formaram a consciência nacional - eis o modo de Anderson prestar homenagem a um dos seus patronos, McLuhan, que, por sua vez, fora buscar o centro das suas ideias a Harold Innis.
Mas em Anderson ficam perguntas por responder: qual a relação entre nação e pátria? O que é povo? Agora que vivemos numa era da globalidade e das múltiplas etnias num espaço geográfico, há alguma relação entre nação e identidade nacional?
[continua]
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Benedict Anderson, Scholar Who Saw Nations as ‘Imagined,’ Dies at 79 (http://www.nytimes.com/2015/12/15/world/asia/benedict-anderson-scholar-who-saw-nations-as-imagined-dies-at-79.html?_r=2), by Sewell Chan: "Benedict Anderson, a scholar of Southeast...
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