Em primeiro lugar, trata-se de uma matéria que importa muito aos jornalistas, na sua relação com fontes políticas. Relações mais amistosas ou mais distantes são as que se constatam ao compararmos os vários políticos - o que significa que eles são diferentes e têm comportamentos diferentes. Já a 1 e 2 de Setembro de 2005, escrevi aqui sobre o mesmo tema, a propósito de um artigo também de Ângela Silva (e outra jornalista, Sofia Rainho) sobre os homens que escreviam para o presidente Jorge Sampaio (Expresso, 11.11.2000) e de um outro trabalho saído no mesmo semanário a 22.2.1997 sobre António Guterres e a sua equipa de assessores para os media (texto de Orlando Raimundo). Daí, eu concluir que se trata de um tema recorrente, e ilustra o interesse que os jornalistas colocam na sua relação com as fontes políticas.
Em segundo lugar, a peça presente de Ângela Silva tem uma só fonte como interlocutora: Luís Bernardo (três vezes), assessor do Primeiro-Ministro. Nos momentos em que ela cita refere-se a Luís Bernardo, "explicam em S. Bento" (duas vezes), "O gabinete de Sócrates". Há ainda três citações atribuíveis a difusas fontes de outros ministérios - uma delas, com uma resposta extremamente desagradável (mal-educada) para a jornalista: "Vejo que gosta de emprenhar pelos ouvidos". O que quer dizer, parece-me, que se trata de comparar atitudes de dirigentes políticos no Governo e seus porta-vozes. Algumas não serão modelares.
Em terceiro lugar, deve encaixar-se o primeiro parágrafo e o último (aqui a última frase). Quanto a mim, é o núcleo do texto do Expresso. No começo da peça, a jornalista descreve as pretensões do governo anterior, de Santana Lopes, de querer uma central de comunicação sediada no Conselho de Ministros e com um director-geral, enquanto José Sócrates centraliza em si a comunicação do Executivo. No último parágrafo, Ângela Silva comenta que, a par do controlo da informação, existe uma política de anúncios, "já apelidada pela oposição de «propaganda»". Embora não queira ser simplista na análise, controlo de informação, propaganda e informação dos actos de governação fazem parte de um só corpo - a necessidade de um Governo falar de si e o interesse dos jornalistas em escreverem sobre o que o Governo diz. Há uma relação simbiótica de uns e outros pela procura (e fornecimento) da informação. O que pode divergir - e é o que acontece - é a posição pessoal de criar um corpo mais ou menos alargado de colaboradores na tarefa de divulgar informação governamental. Com mais um elemento: o que para o Governo é informação, para a oposição é propaganda. Basta mudar a direcção política do Governo, para os partidos inverterem a sua análise a esse fluxo de informação.
Em quarto lugar, e embora pareça verdadeiro o propósito do Primeiro-Ministro em "fechar as torneiras" da informação, continua a haver comunicação dos outros ministérios: os ministros falam, os assessores de imprensa existem. Talvez haja mais coordenação entre os vários elementos da governação, o que é mais sensato do que comunicar ideias novas todos os dias e esquecê-las no dia seguinte. O fundamental é que, hoje, um Governo existe se tiver uma boa política de mediatização. Claro que é a principal fonte de informação dos jornalistas, pois tem dados que mais ninguém possui - onde se aplica um investimento, que prioridades sociais e políticas, como se comporta o país em assuntos de relações externas.
Em quinto lugar, e que me recorde dos outros textos sobre o tema, não havia uma espécie de remoque na distinção entre comunicação e "jornalismo de intriga e politiquice". Isso não se virará contra o próprio Expresso, agora que o ameaça a sombra do futuro semanário Sol?