Coisas e Coisas
AVATAR
Na atribuição dos troféus dos Globos de Ouro, o filme Avatar conquistou os de melhor filme na categoria drama e também de melhor realizador (James Cameron). Os Globos de Ouro são atribuídos pela associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood. Por outro lado, só nos Estados Unidos e no Canadá, o filme alcançou os 491 milhões de dólares (341,5 milhões de euros) de receitas desde a estreia, o que o aproxima cada vez mais do filme com mais sucesso em toda a história do cinema.
O que emociona no filme? Quais as razões do sucesso?
A história é simples: uma história de amor quase impossível, num planeta longínquo (Pandora) onde a civilização mais avançada tecnologicamente faz tudo para aniquilar ou deslocar a cultura mais antiga, com uns seres de estrutura estranha e códigos de valor muito firmes agarrados à terra e à sabedoria de muitas gerações. Do lado dos mais tecnológicos, vê-se que são os americanos, ansiosos por explorarem as matérias-primas do subsolo do planeta. Do lado dos menos tecnológicos, não há muita dificuldade em perceber que são índios e negros, que vestem a pele dos explorados ao longo de séculos: os arcos e flechas dos primeiros, a cor da pele, a imponência das árvores e as preces dos segundos. A que se misturam efeitos que mostram uma paisagem aparentada com a da Nova Zelândia ou da África ao sul do Saara, a que se acrescentam a beleza e a liberdade. E muitas citações de outros filmes:
Minority Report,
Matrix e
Blade Runner serão os mais fáceis de identificar. A criação de um segundo eu, cópia, clone ou avatar (como no programa informático
Second Life) faz parte de uma crescente e entusiasmante cultura da ficção científica.
Se Cameron, no afundamento de
Titanic, um navio considerado seguríssimo, mostrava uma narrativa sobre a derrota do capitalismo industrial, volta a repetir a mesma estrutura, opondo uma frágil e interdependente cultura a uma forte cultura marcial, com aquela a vencer após uma luta terrível. Mas introduz mais complexidade: em
Titanic, há uma luta do homem contra a natureza, em
Avatar, há uma luta entre homens, culturas e civilizações distintas, entre homens e cópias (avatares), entre homens e natureza (caso de animais inteligentes ou gigantes e poderosos).
É nas imagens, nos efeitos especiais, na terceira dimensão tornada possível pelos óculos que os espectadores usam, que reside a fatia maior de sucesso. Filme muito caro e demorado a fazer, ele parece - com a espectacularidade e o dinheiro já ganho em bilheteira - traçar o começo de um novo paradigma no cinema. Esta viragem, visível em filmes como os de George Lucas ou de Steven Spielberg, torna o padrão da ficção científica como um dos mais rentáveis. Além de haver um previsível efeito de arrastamento tecnológico, pois a televisão aproxima-se da possibilidade de introduzir a terceira dimensão.
Nos Globos de Ouro que premiaram
Avatar, também o filme
A Ressaca e os actores e actrizes Jeff Bridges, Sandra Bullock, Robert Downey Jr. e Meryl Streep foram premiados. Cameron e o seu filme caminham para outros sucessos. A pergunta final é: como reage o cinema europeu?
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