AS IDADES DA TELEVISÃO
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AS IDADES DA TELEVISÃO


No passado dia 22 de Setembro, eu comentava aqui a primeira parte de um texto de Eduardo Prado Coelho sobre as idades da televisão.

Ele destacou as duas primeiras idades: 1) paleo-televisão, ou tempo da televisão pública e da legitimidade pública, 2) neo-televisão, ou tempo da televisão por cabo e da fragmentação de públicos, 3) pós-televisão, que remetia para a edição posterior do suplemento do Público, "Mil Folhas" (que sairia a 29 de Setembro).

Ora, em que consiste a pós-televisão? Eduardo Prado Coelho, seguindo a trilha feita por Jean-Louis Missika em obra já publicada no presente ano, escreve que a pós-televisão "pertence a um tipo de comunidades em que as identidades de classe estão a desaparecer, e começa a surgir a identidade individual". Se, na neo-televisão, o indivíduo comum acedia ao ecrã, desde que tivesse vivido algo de extraordinário, na pós-televisão basta o indivíduo existir para justificar a sua presença na televisão.

Eduardo Prado Coelho reflecte sobre pequenos canais especializados, com uma audiência reduzida, num universo de cada vez mais canais que se hiperfragmentam, o que possibilita o espectador a ser programador do que vê. Género: "A televisão serve hoje sobretudo para que o espectador passivo se transforme num espectador activo que possa, no «plateau» ou na rua, tomar a palavra e reforçar a sua autonomia de indivíduo específico. Esbate-se assim a fronteira entre profissionais e amadores". Convergência tecnológica e revolução económica são outros conceitos operacionalizados pelo filósofo.

Apenas um reparo: Eduardo Prado Coelho é um autor com forte influência da cultura francesa, o que é legítimo e fica bem. Contudo, no universo linguístico português, há expressões que ganharam cidadania e diferem da origem francesa. Refiro-me à questão tecnológica - diz-se digital e não numérico (que vem de numérique, em francês). Não há câmaras numéricas mas câmaras digitais. E não sei o que é um "logicial" recarregável. Também dizemos - e Eduardo Prado Coelho também - computador e não ordenador. E ecrã e não écran. Devemos falar uma única língua quando falamos português.



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