Ah, os plantões intermináveis...
Coisas e Coisas

Ah, os plantões intermináveis...


São 24 esfihas de carne, 15 de queijo, 10 quibes e umas garrafas grandes de Coca-Cola. Todos colaboram com notas amassadas e moedas. O dinheiro arrecadado vai para as mãos de um dos motoristas, que seguirá até o Habib’s mais próximo. Em pouco tempo (às vezes muito tempo) ele voltará com aquela caixa gigante e quente e, então, começará a divisão da comida. Se não fosse por um conflito que vez ou outra ocorre – “esse quibe que tá sobrando aí é meu, porra!” –, aquela bela cena até lembraria Jesus repartindo o pão e o vinho.

Este é o viés gastronômico (baixíssima gastronomia, digo, de passagem) de uma montagem de guarda de jornalistas. Quem é o jornalista com algum tempo de estrada que nunca ficou horas num hospital esperando pelo novo boletim médico daquele cantor famoso em estado terminal? Ou passou a tarde jogado numa calçada na frente do prédio em que mora o presidente? Há também os plantões nos fóruns da vida, nos grandes julgamentos.

Nesses plantões, tudo pode acontecer. Ou nada pode acontecer. O lance é esperar a notícia, sem saber ao certo se ela vai chegar e a que horas. Os jornalistas, mesmo os concorrentes, unem-se, dividem a angústia do tempo que não passa. Nessa hora, você agradece aos céus por existirem os fotógrafos, que são metidos a engraçadinhos, contam piadas, fazem brincadeiras com quem passa por lá, levam o baralho para o truco.

São nesses plantões intermináveis que se revelam as mais inusitadas histórias de jornalistas, gargalhadas verdadeiras são saboreadas, dramas pessoais compartilhados e até algumas paixões iniciadas.

No fim, feliz é o jornalista que recebe um telefonema da redação com a notícia de que está sendo “rendido” por algum colega. “Bem, amigos, infelizmente, vou ter de deixá-los”, diz, com um sorriso malicioso no canto da boca. Despede-se de todos e entra no carro do jornal, que está impregnado por aquele maldito cheiro de esfiha. Por que é sempre o seu motorista que tem de ir ao Habib’s mais próximo?



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