A recepção dos Doors em Portugal
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A recepção dos Doors em Portugal


Os Doors surgiram em 1965 e acabaram em 1971, com a morte de Jim Morrison, o vocalista e alma da banda americana (no formato da banda inicial, que incluía Ray Manzarek nas teclas, Robby Krieger na guitarra e John Densmore na bateria), com influências de diferentes estilos musicais, casos do blues, do jazz, da country music e do movimento psicadélico. O seu impacto mundial foi enorme, marcando de forma inegável a cultura popular e de massa na segunda metade dessa década de 1960 e muito depois.

Rui Pedro Silva, um grande fã da banda e um dos seus mais conceituados biógrafos, escrevera Contigo Torno-me Real (2003). Agora, e depois de uma intensa investigação em Los Angeles, a cidade da banda, com especial incidência nos arquivos da Universidade da Califórnia (UCLA), onde Jim Morrison e Ray Manzarek se conheceram no curso de cinema, publica Caravana Doors. Uma viagem luso-americana (editora Documenta, 2012).

O livro tem duas partes distintas: a primeira dedicada ao percurso dos Doors, a segunda ao seu impacto em Portugal. Retenho a segunda parte do livro, onde o autor faz uma exploração sistemática da imprensa nacional e especializada em busca de ecos e reflexões da banda americana (Jornal de Notícias, Mundo da Canção, A Memória do Elefante, Música & Som, Se7e, Blitz). Numa das publicações, Mundo da Canção (Fevereiro(Março de 1981), era reconhecido o esforço de divulgação da música dos Doors, apresentado como produto de qualidade (p. 195). Mas também realça a passagem da banda na rádio, através dos seus discos (em alguns programas de rádio), casos de Unknown Soldier, pela comparabilidade de situações nos Estados Unidos (guerra do Vietname) e Portugal (guerras coloniais em África), Light My Fire e Strange Days.

Aqui, o programa Em Órbita (Rádio Clube Português) é destacado. Nascido no mesmo ano da banda norte-americana, o programa de Jorge Gil passou exclusivamente música anglo-americana, incluindo os Doors. Em entrevista ao jornal Se7e (16 de Julho de 1980), Gil disse: "A música que passávamos falava dos problemas dos jovens americanos e ingleses, mas não deixava de ter reflexos na realidade portuguesa. Quando se falava na guerra do Vietname estava-se, por via indirecta, a falar na guerra colonial" (p. 191).

Retiro mais alguns dados, a partir de uma entrevista dada por Rui Pedro Silva em 2011: "«Muitas bandas ao longo das décadas assumiram-se fãs incondicionais dos Doors, e algumas em particular do Jim Morrison, mas nenhuma conseguiu chegar ao brilhantismo que os Doors assumiram na música e no casamento da música com a poesia», referiu Rui Pedro Silva, autor do livro Contigo Torno-me Real. O autor, que está a preparar um segundo livro sobre os Doors, salientou que muitos tentaram imitar a banda de Jim Morrison, «mas ficaram muito longe» de conseguirem. «Outros beberam a influência e, de uma forma original, foram criar o seu próprio caminho», afirmou, destacando o caso de Ian Astbury, vocalista dos Cult, que mais tarde veio a ser convidado para representar Jim Morrison na banda que assumiu a designação Doors Século XXI" (Diário de Notícias).

O livro tem uma terceira parte, a de entrevistas e recolhas de opinião com artistas, agentes culturais e profissionais da rádio sobre o impacto da obra dos Doors: Cândido Mota, Ana Cristina Ferrão, António Manuel Ribeiro, Joaquim de Almeida, Tino Navarro, Filipe Mendes (Phil Mendrix), António Garcez, Sérgio Castro, João-Maria Nabais (a quem julgo que pertencem as pp. 394-401, mas não devidamente identificadas, pela densidade narrativa distinta do resto do volume) e outros.

Leitura: Rui Pedro Silva (2012). Caravana Doors. Uma viagem luso-americana. Lisboa: Documenta, 414 p., 24,99 euros



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