1967 - O ANO QUE MUDOU A RÁDIO NOS ESTADOS UNIDOS
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1967 - O ANO QUE MUDOU A RÁDIO NOS ESTADOS UNIDOS



Na história da rádio americana, 1967 é um ano charneira, como o propõem dois livros que agora trago à discussão. Um é de Jack W. Mitchell (Listener supported. The culture and history of Public Radio, 2005).

Depois da programação com interesse público da rádio Pacifica na década de 1960, e com influência da BBC inglesa em especial o Terceiro Programa, que alimentam os gostos de minorias culturais, a rádio pública americana surge em Abril de 1967. Um comité do Senado para os assuntos comerciais conseguiu fazer aprovar uma proposta do presidente Lyndon Johnson, após uma longa disputa terminológica entre televisão e audiovisual (esta palavra a incorporar a rádio). Surgia a National Public Radio (NPR).

O papel de Mitchell é fundamental na NPR. Nascido em 1941, trabalhou na rádio da universidade de Michigan (WUOM), onde estudava. A CPB (Corporation for Public Broadcasting), entidade que suportaria financeiramente a NPR, convidou Mitchell a trabalhar no novo conceito de rádio pública e enviou-o para o Reino Unido para trabalhar e estudar na BBC durante um ano. Após o regresso aos Estados Unidos, Mitchell tornou-se o primeiro empregado da NPR. Confessa ele que, sendo o primeiro empregado, foi o “primeiro” em muitas coisas. Por exemplo, foi produtor do programa All Things Considered, um dos esteios da informação da rádio pública. Foi também membro do conselho directivo da NPR, numa altura em que geria rádios no Minnesota e no Wisconsin. Mais tarde, enquanto docente universitário, pôde perceber melhor os movimentos e as tendências da rádio pública.

1967 é também o ano da marca de água do livro de Jim Ladd (Radio waves. Life and revolution on the FM dial, 1991). Escrito como se fosse um diálogo ininterrupto e romanceado, é uma viagem à própria experiência de Ladd, dee-jay desde o ano mítico de 1967 e uma figura notória da cena radiofónica da Califórnia. Se Mitchell conta uma história maioritariamente ocorrida na costa leste americana, Ladd dá-nos o contraponto da costa oeste, no Pacífico.

Foi em 1967 que Ladd e outros pioneiros lançaram rádios de rock and roll em FM. Na introdução ao livro, Don Henley fala de San Francisco, dos hippies, do consumo de ácidos, LSD e outras drogas, do álbum dos Beatles Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band e da contracultura (de costa a costa, de Boston a Los Angeles). O FM era superior ao AM em qualidade de transmissão e começava a usar a estereofonia.

Ladd recorda, no primeiro capítulo, a rádio KAOS, em 94.7 MHz, bem como a KFRE, animada pelo portentoso (em dimensão física) Tom Donahue (1928-1975) e pela sua futura segunda mulher, Raechel Hamilton, de 18 anos, com menos de metade da idade daquele. Grateful Dead, Jefferson Airplane, Janis Joplin, Jimmy Hendrix e Doors, entre muitas outras bandas, tocavam na rádio com uma abundância não vista anteriormente. O formato American Top 40, apanágio das rádios de AM, onde passavam os discos mais vendidos, era substituído por aquilo a que Ladd chama de corrente da contracultura ou underground e que rapidamente se estendeu aos Estados Unidos no seu conjunto (e também chegou a Portugal; vide o programa Em Órbita). O dia do arranque foi 7 de Abril de 1967. Tom e Raechel faziam tudo: tocavam os discos, falavam, atendiam o telefone. De rádio falida, a KFRE passou a ser o farol do novo estilo FM, angariando novos patrocinadores e tendo logo imitadores, como a WOR (Nova Iorque) e a WBCN (Boston). De San Francisco, Tom e Raechel foram logo depois destacados para dinamizar outra estação, agora em Pasadena. Estava-se em Outubro de 1967.

A KDOM, de Ladd, começava igualmente a ser conhecida, irradiando a partir de Los Angeles. Era ainda o tempo dos discos em vinil, que permitiam fazer habilidades como colocar a agulha no disco através de um botão de comando ou manualmente, procurando acertar na espira certa. Ladd apresentou uma demo de programa e foi admitido, passando, à noite, as músicas que mais gostava, desde Led Zeppelin a Beatles ou Ravi Shankar, música que significava para ele uma perspectiva geracional única (p. 23), com canções sobre o movimento pacifista, direitos civis, Vietname.



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