Coisas e Coisas


HISTÓRIA DA TELEVISÃO

Saiu, em 2003 e no mercado espanhol, um texto curto sobre a história da televisão, assinado por Luis Tomás Melgar, e que merece aqui apresentação.

Dos pontos principais da obra de 142 páginas, saliento os seguintes: 1) aspectos técnicos (disco de Nipkow, tubo de raios catódicos, o peso de personalidades como John Logie Baird e Vladimir Zworykin, televisão a cores, por cabo e por satélite, gravação em fita magnética e em vídeo e vídeo digital), 2) relação da televisão com outros media (cinema, fotografia, telefone e rádio), 3) desenvolvimento da televisão em vários países (Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, França) e outros países (México, Argentina, Japão) [a Espanha tem um capítulo próprio. De Portugal, somente a informação que, no tempo da ditadura, como em Espanha e Grécia, o poder político não permitiu a iniciativa privada em televisão].

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Melgar, dentro do espaço do seu livro, reflecte a primeira etapa da expansão da televisão no mundo, que baliza entre 1935 e 1945, com difusão na Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, França e Rússia. O autor debruça-se, por exemplo, sobre a experiência alemã. Já no tempo do governo de Hitler, começava num subúrbio de Berlim, a 1 de Janeiro de 1934, uma emissão com dois pequenos programas diários. Logo depois, a 22 de Março de 1935, havia uma nova emissora, a Paul Nipkow, que emitia uma hora três vezes por semana, passando a seis horas semanais algum tempo mais tarde. O sistema era financiado com um imposto de radiodifusão. A 9 de Abril de 1935, os correios alemães inauguravam em Berlim os Fernsehstuben, locais dotados de receptores de televisão e situados em postos dos correios, para que os telespectadores seguissem directamente as emissões. Quando em Agosto de 1936 se celebravam os Jogos Olímpicos de Berlim, a televisão alemã cobriu o acontecimento com 27 câmaras de captação electrónica e equipas móveis.

Para mostrar o peso das tecnologias neste meio, o autor dedica, nos cinco primeiros capítulos, com 66 páginas de texto, apenas quatro páginas a conteúdos (concursos, novelas, transmissões desportivas, teatro televisivo, sitcoms, programas musicais) e três à informação!

No capítulo sobre Espanha – para além do período experimental –, Luis Melgar destaca a escola de Barcelona (descentralização face a Madrid), o período de ouro da TVE (1962-1975), os teleclubes (inspirados na experiência alemã no tempo de Hitler, e que permitiram a lenta democratização no acesso à recepção, obviando à dificuldade de aquisição de aparelho de televisão, pois o poder de compra dos espanhóis era baixo) e referência a diversos realizadores, animadores e outros profissionais da televisão pública. A abertura política e transição democrática (1975) e o fim do monopólio (1989) ocupam também o texto.

O capítulo 7 e último é um levantamento exaustivo das séries que passaram na televisão espanhola, esmagadoramente de origem americana. Algumas delas passaram também em Portugal, e eu vi vários ou muitos dos episódios dessas séries: Bonanza (1959-1963, NBC), Doutor Kildare (1961-1964, NBC), O fugitivo (1963-1965, ABC), O Santo (1967-1969, ITC), Dallas (1978-1979, CBS), Dinastia (1981-1983, ABC), Balada de Hill Street (1981-1986, NBC). Uma outra série, que não vi (e não sei se passou em Portugal), mas que teve muito êxito em Espanha, foi Kung-Fu (1972-1973, ABC), e tinha David Carradine a fazer o papel de monge budista Kwai Chang Caine (no filme de Tarantino Kill Bill, Carradine interpreta um papel de hábil utilizador de espadas japonesas e assassino que a Noiva vingará). Melgar destaca ainda algumas séries espanholas, caso de Médico de família (1995, Telecinco).

Algumas das principais etapas no desenvolvimento da televisão

1) De 22 de Março de 1935 a 7 de Dezembro de 1941, as televisões baseadas no sistema mecânico Nipkow-Baird foram substituídas por sistemas electrónicos,
2) Normas de televisão. Nos Estados Unidos, adoptou-se o sistema de 525 linhas com 30 imagens por segundo, ao passo que no Reino Unido se adoptou o sistema de 425 e a Europa o sistema de 625 linhas (Portugal encontra-se neste grupo),
3) Em 1940, a CBS americana lança a televisão a cores. Seis anos depois, a mesma empresa moderniza o seu sistema de imagem a cores,
4) O sistema de televisão por cabo HBO (Home Box Office) opera desde 1972. Após fusões de várias empresas, a HBO fica como a mais potente das televisões por cabo,
5) Gravação por fita magnética. Em 1956, a Ampex comercializa um sistema de gravação e reprodução de vídeo. Nesse ano, a 30 de Novembro, a CBS oferece, na costa oeste, o programa Douglas Edwards and the news, gravado três horas antes em Nova Iorque.

Luis Tomás Melgar, jornalista, profissional de cinema e autor dramático, foi guionista, realizador e director da TVE durante 30 anos. Presentemente ensina história do cinema e da televisão na Universidade Antonio de Nebrija (Madrid). Num exemplo raro de humildade num investigador, o autor agradece aos seus alunos, por lhe terem dado apontamentos e trabalhos de turma, os quais serviram para consolidar o texto.

Leitura: Luis Tomás Melgar (2003). História de la televisión. Madrid: Acento

Adenda (colocada depois do meio-dia)

Recebi de Francisco Correia (do blogue Melga) uma mensagem que completa o meu post, e que agradeço imenso.

Do seu texto retiro o seguinte: "a série Kung Fu passou em Portugal pelo menos umas 3 vezes no final dos anos 80/princípio dos 90. Lembro-me de passar na RTP 1 no início da tarde e depois ser transmitido num programa da RTP 2, que era o Agora Escolha (um programa de repetições apresentado pela Vera Roquete, em que os telespectadores democraticamente podiam ligar e votar em que programa queriam ver a seguir ao Programa da Repetição base). O Kung Fu foi escrito pelo Bruce Lee, que era para ter o papel principal, mas como os estúdios de Hollywood acharam que ele era demasiado chinês, atribuiram o papel ao David Carradine. Isto foi antes do Bruce Lee ter ficado famoso pelos filmes de Kung Fu".



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