Coisas e Coisas
ELEMENTOS PARA A COMPREENSÃO DA REDACÇÃO DIGITAL
Desde sempre, mas especialmente nos últimos anos, as redacções dos media têm sofrido alterações profundas na perspectiva tecnológica.
María Bella Palomo fala mais em evolução do que revolução ou reinvenção (Palomo, 2004: 34). Ela referencia o telemóvel que permite estabelecer uma comunicação em directo, sem necessidade de microfones ou sistemas complexos de transmissão, recolhendo declarações radiofónicas em permanência.
A internet incorpora diversas ferramentas: correio electrónico, fóruns ou grupos de discussão, motores de busca, bem como o som, o vídeo, as cartas geográficas interactivas. José Pedro Castanheira (2004: 88) observa que os jornalistas do
Expresso, semanário onde trabalha, têm correio electrónico, a ferramenta mais usada na internet. Há mesmo quem considera que o e-mail alterou tanto as rotinas dos jornalistas como outras tecnologias o fizeram: telégrafo, telefone, fax, satélite. Das principais mudanças, enumeram-se as da
maior precisão, descentralização e instantaneidade (Palomo, 2004: 37).
E-mail e fórum: duas ferramentas imprescindíveis na comunicação de hoje
Castanheira entende que, hoje, se verificam vantagens no uso do e-mail em detrimento do telefone no contacto com as fontes de informação. Aplicado ao jornal
Expresso (edição digital), existe desde 10 de Janeiro de 1998 a possibilidade de os leitores enviarem comentários a artigos nele publicados. Também se disponibilizaram endereços electrónicos de elementos da direcção do jornal desde 7 de Outubro de 2000. Isso torna possível a conversão simultânea de informantes e informados. Jornalistas e leitores podem criar notícias, consumir e aceder às mesmas fontes de informação. Isto é:
potencialmente, qualquer utilizador da internet pode redigir uma notícia e colocá-la na rede. Além disso, já não existem barreiras geográficas: em qualquer parte do mundo pode-se publicar um texto.
Quanto aos leitores/utilizadores, o fórum ou grupo de discussão é a ferramenta ideal para se ligar ao jornalista ou comentador, desempenhando igualmente o leitor o papel de comentador. Apesar de delimitação de um tema, os leitores aproveitam tais espaços para abordar outros assuntos, frequentemente à margem das notícias que deviam comentar (Castanheira, 2004: 95). O fórum torna-se um espaço que o leitor defende em termos de quase propriedade sua.
Se há vantagens na relação entre jornalista e leitor que a internet proporciona, esta é também responsável pela
alteração de perfis profissionais (ou mesmo o seu desaparecimento). A internet e as bases de dados associadas aquela geram um tipo de jornalistas auto-suficientes. O acesso directo a fontes primárias e secundárias reduz as tarefas dos documentalistas, substituídos por motores de busca como o Google. Também a presença de programas de software de correcção ortográfica acaba com a necessidade de revisores, ao passo que as máquinas digitais de fotografia eliminam o processo de revelação e a rede possibilita que um canal de televisão ou de rádio alcance audiências a nível mundial (Palomo, 2004: 41-42).
Estas alterações também facilitam a actividade empresarial, tornando os contactos mais baratos (para entrevistar alguém no outro lado do planeta basta mandar uma mensagem com as perguntas e esperar a resposta).
Leituras: Castanheira, José Pedro (2004).
No reino do anonimato. Estudo sobre o jornalismo online. Coimbra: MinervaCoimbra
Palomo, María Bella (2004).
El periodista on line: de la revolución a la evolución. Sevilha: Comunicación Social Ediciones e Publicaciones
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