Coisas e Coisas
UMA ANÁLISE DAS RÁDIOS LOCAIS EM PORTUGAL
Apesar de ter sido defendida em Julho de 2003 [o blogue Jornalismo e Comunicação fez-lhe referência em post publicado a 21 de Agosto de 2003], só agora tive oportunidade de ler a tese de mestrado que Luís Bonixe defendeu na Universidade Nova de Lisboa (sob orientação de Francisco Rui Cádima).
O autor propôs-se analisar o cenário das rádios locais em Portugal. Alguns dos temas que atravessam o estudo são: problemas financeiros, necessidade do apoio do Estado, iniciativas legislativas e declínio da visão alternativa da realidade por parte das rádios locais. Bonixe, actualmente professor da ESE de Portalegre, dividiu o seu trabalho em três áreas. Para além da parte teórica (revisão científica da literatura do assunto), fez uma análise histórica do fenómeno das rádios piratas/livres/locais desde 1977 (Rádio Juventude), passando pela legalização do sector (1988) até ao começo do nosso século. São páginas importantes para quem queira estudar o sector numa perspectiva histórica.
A terceira grande área do trabalho que agora li (parte empírica) prende-se com a observação feita a noticiários de quatro estações da península de Setúbal: Rádio Seixal, Rádio Voz de Almada (entretanto mudada para Rádio Radar em 2002), Rádio Santiago (Sesimbra) e Rádio Popular FM.
Com base em 385 noticiários, correspondendo a 1262 minutos e 1962 notícias [observação feita entre Outubro de 2001 e Fevereiro de 2002], ele classificou as notícias em dois tipos, local e não local, concluindo pela duração média de cada noticiário entre seis minutos (Rádio Popular FM) e 2,2 minutos (Voz de Almada). Por exemplo, a Rádio Santiago edita as notícias não de acordo com a sua importância mas em função da secção temática a que pertencem: a abertura pertence sempre a notícias locais, seguindo-se as nacionais, internacionais e desporto.
Do seu estudo, Luís Bonixe (2003: 155-163) retira um conjunto de conclusões, as quais me parecem pertinentes observar: 1) declínio do discurso alternativo que marcou inicialmente as rádios locais, 2) colagem do discurso informativo das rádios locais à agenda dos media nacionais, 3) tratamento mais aprofundado das informações locais, 4) estas abrem frequentemente os noticiários, 5) os assuntos desportivos têm um grande destaque, 6) também espectáculos e actividades camarárias são temas habituais, 7) os representantes das elites locais têm uma maior exposição de tempo quando comparada com as populações locais, 8) em termos financeiros continua a haver uma debilidade estrutural, 9) jornalista de rádio local como especializado (ao nível geográfico).
Leitura: Bonixe, Luís (2003).
As rádios locais em Portugal: informação e função social. Uma análise dos noticiários das rádios do distrito de Setúbal. Tese de mestrado defendida na Universidade Nova de Lisboa [há um exemplar disponível na Biblioteca Nacional]
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