Coisas e Coisas


MM EM DVD

O anúncio do jornal madrileno El Mundo diz: Marylin, el mito. Las mejores películas del mayor icono del cine. Assim, para além da colecção de livros sobre cozinha das regiões e comunidades espanhola, o El Mundo edita agora DVDs com filmes de Marylin Monroe (treze no total).

A colecção começa no próximo domingo 13, com a película Os homens preferem as loiras, passando a sair com o jornal de quinta-feira. O preço é de €8,95 cada DVD, mas Portugal não está incluido na rota de distribuição (por questões de direitos de autor). Marylin suicidou-se em 5 de Agosto de 1962, quando tinha 36 anos.




A edição do El Mundo de ontem, dia 8 de Fevereiro, ocupa quatro páginas com Marylin Monroe: duas sobre a colecção de DVDs e duas sobre a exposição patente no Centro Cultural de la Villa de Madrid, com o título Marylin. São 290 peças (fotografias, quadros e esculturas nela inspiradas). Como escreve o jornalista Antonio Lucas: uma vida desenhada para os flashes das máquinas, feita à medida dos títulos dos jornais e das páginas frívolas das revistas dos anos 1950 e 1960. Dizia Marylin Monroe, aliás Norma Jean Baker: "Em Hollywood, podem pagar mil dólares por um beijo mas apenas 50 cêntimos pela alma".




A exposição agora presente em Madrid dá de Marylin a imagem de tótem com a marca MM. E destacam-se fotografias imemoráveis, como a forjada por Andy Wharol, que a elevou à categoria de bem de consumo inalcançável, como a sopa Campbell's, ou o furor dos soldados americanos destacados na guerra da Coreia, em 1954, quando a actriz os visitou, "armada" com braços e pernas nuas de fazer perder a cabeça.

Nada melhor do que ler a prosa de David Torres na mesma edição de El Mundo: "Quando Fritz Lang inventou em Metrópolis a mulher ideal, um andróide loiro e belíssimo que escravizava os homens, não podia imaginar que os directores da Twentieth Century Fox iam fazer realidade com uma jovem modelo chamada Norma Jean Baker. [...] Anos depois, convertida numa beleza estonteante e baptizada com um duplo M que serigrafava o catálogo de curvas que era o seu corpo, Norma Jean transformou-se da noite para a manhã no seu sonho: Marylin Monroe, a loira esplêndida, coquete, doce e tola que caminhava sobre as cabeças dos homens".

Lido isto, só resta comprar os DVDs da loira (apenas em Espanha). E aumentar o consumo de cinema em casa, o que traz novas questões, como explicam Carla Martins e colegas em A cadeia de valor do audiovisual (2004: 59). A utilização do filme nas fases seguintes da cadeia de valor reveste-se da maior importância para o financiamento de produções cinematográficas cada vez mais caras. É que o maior nível de lucro de um filme se atinge com o vídeo e o DVD. A janela DVD parece levantar problemas, levando a indústria cinematográfica a ver condicionada a aprovação de projectos à previsão do sucesso a ter na comercialização do DVD, reduzindo a variedade da oferta na produção. Aplicando ao caso dos DVDs dos jornais: instaura-se um gosto pelos filmes mais antigos, designando-os como de culto, ou atendendo aos blockbusters, o que retira espaço para filmes experimentais ou de ruptura estética e temática.



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