Coisas e Coisas
FITAS PORTUGUESAS
No fim-de-semana, vi dois filmes portugueses,
Noite escura, de João Canijo, e
Kiss me, de António Cunha Telles. Confesso que uma das principais razões que me levaram às salas de cinema foram, para além dos realizadores, as estrelas Beatriz Batarda e Marisa Cruz.
Da primeira, conhecia o recente desempenho em
Quaresma (2003), dirigida pelo já desaparecido José Álvaro Morais, ao lado de Rita Durão. Mas, aqui em
Noite escura, tem um papel simbólico imprescindível: a única consciente de uma família de quatro pessoas (pai, mãe e duas filhas, em que ela desempenha o papel da mais velha), cujo negócio é uma casa de alterne. Ela assiste a toda a sordidez da actividade em si e do principal móbil da história em particular - a venda da irmã a uma mafia russa como moeda de troca por um negócio mal conduzido pelo pai.
Ela está irreconhecível numa película de cenas rápidas e
travellings constantes, com primeiros planos das principais personagens: cor de cabelo, aparelho nos dentes, voz e expressão grave. Ao lado de Rita Durão, é das artistas portuguesas que mais aprecio.
Já de Marisa Cruz lembrava-me de uma capa no caderno "Actual" do
Expresso, há meses atrás, da sua passagem pela moda e do namorado futebolista João Pinto, ido do Benfica para o Boavista nesta época. O desempenho da falsa loura que queria ser Marilyn Monroe na Tavira dos anos 1950 é promissor (além do contributo de Nicolau Breyner, cada vez melhor como actor; eu vira-o recentemente em
Milagre segundo Salomé, de Mário Barroso, e
Os imortais, de António Pedro Vasconcelos). Um reparo apenas: provavelmente não valeria a pena mostrar Marisa Cruz tantas vezes nua: já sabíamos que ela era uma mulher bonita. Quase parecia o filme
Romance (1999), de Catherine Breillat.
Assinalo também as memórias cinematográficas de Cunha Telles, nomeadamente Marylin e alguns cineastas, e a banda sonora do filme de Canijo, onde a música pimba se adapta bem ao enredo.
Uma última observação: as salas de exibição. O filme de Canijo vi-o numa sala do King, bastante composta de espectadores. Ao filme de Cunha Telles assisti numa das 11 salas do Alvaláxia: estavam sete pessoas. Do mesmo modo que as salas do outlet de Alcochete, também estas têm o equipamento de projecção mais sofisticado que existe. Mas os espectadores, a alma da actividade, parecem não gostar muito destas salas onde se podem levar bebidas e pipocas. Além dos cinemas, também o centro comercial não tinha muita gente. Será mesmo um flop este Alvaláxia?
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