Coisas e Coisas


COMO ESCREVER UM BOM TÍTULO NA IMPRENSA

Há dois anos atrás, Dinis Alves lançava o livro Foi você que pediu um bom título? Lugar privilegiado do acontecimento, como o autor escreveu citando Estrela Serrano (p. 12), o trabalho seria todo dedicado à análise da construção dos títulos das notícias dos jornais.

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Agora coube a vez à edição do livro Títulos das notícias, de Mário Pinto e Wlodzimierz Jósef Szymaniak (MinervaCoimbra). O subtítulo esclarece melhor os propósitos do texto: Recursos retórico-estilísticos. Intencionalidade ou acaso? Na introdução, lê-se que um dos objectivos "reside em verificar até que ponto o uso de certas figuras retóricas, nomeadamente da metáfora ou da metonímia, resulta da decisão consciente do usuário ou é tão-só produto da acção dos mecanismos universais da linguagem e da língua portuguesa em particular" (p. 10). Baseados na perspectiva da retórica aberta por Charles Perelman, os autores, nas conclusões, escreveriam o seguinte: "consideramos que o recurso às figuras retóricas no discurso jornalístico enriquece sobremaneira o texto e, em consequência, convida o leitor a um diálogo intelectual com o autor da notícia ou da reportagem" (p. 105).

Os autores partem da classificação categorial que inclui: 1) metaplasmas (figuras que incidem sobre o aspecto sonoro ou gráfico das palavras), 2) metataxes (figuras que afectam a estrutura frásica do discurso), 3) metassememas (figuras que afectam as características sémicas do discurso), e 4) metalogismos (figuras que afectam o valor lógico da frase).

De entre várias figuras da primeira, Mário Pinto e Wlodzimierz Jósef Szymaniak escolheram a aliteração, que consiste na repetição dos mesmos fonemas, como O fugitivo fugiu ou O caçador caçado (p. 16). Da categoria das metataxes, escolho a anáfora, que consiste na repetição de um vocábulo ou de uma fórmula num dado lugar do texto, exemplificado em Todos em luta contra todos (p. 24). Já na categoria dos metassememas, distingo a sinédoque, que consiste na transferência do significado para além do uso habitual ou literal, como Os olhos da América na guerra ou Torneiras da serra de Sintra vão ter mais um Verão seco (pp. 51-52). Finalmente, das figuras dos metalogismos, escolho a antonomásia, onde se substitui um nome comum por um nome próprio ou vive-versa: Lance triunfal (Lance é o nome de um ciclista) ou Ave e reboque avariam aviões (após a paragem forçada de um avião, com reactor danificado, o que o foi substituir também se avariou) (p. 34).

Mário Pinto ensina na Universidade Fernando Pessoa (Porto) e o polaco Wlodzimierz Jósef Szymaniak é professor no Instituto Piaget.

Leitura: Mário Pinto e Wlodzimierz Jósef Szymaniak (2005). Títulos das notícias. Recursos retórico-estilísticos. Intencionalidade ou acaso?. Coimbra: MinervaCoimbra. 113 páginas.



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