Coisas e Coisas
LITERATURA SOBRE JORNAIS E REVISTAS FEMININASNo mercado, estão a aparecer vários livros sobre a imprensa feminina, um vasto campo a estudar. Para referir os mais recentes, menciono: 1) Alice Marques (2004).
Mulheres de papel. Representações do corpo nas revistas femininas. Lisboa: Livros Horizonte, 2) Maria Helena Vilas-Boas e Alvim (2005).
Do tempo e da moda. A moda e a beleza feminina através das páginas de um jornal (Modas & Bordados - 1912-1926). Lisboa: Livros Horizonte, 3) Ana Maria Costa Lopes (2005).
Imagens da mulher na imprensa feminista de oitocentos. Percursos de modernidade. Lisboa: Quimera. Todos estes trabalhos têm origem académica (mestrado e doutoramento), o que mostra uma interessante dinâmica na investigação e posterior publicação.
Apesar de ainda não ter tido tempo para ler as três obras na sua totalidade, deixo aqui alguns apontamentos sobre um assunto que me parece importante: âmbito dos temas abordados e metodologias empregues.
O trabalho de Alice Marques analisou 24 números em 2000 das revistas
Cosmopolitan e
Máxima, em que a autora procura ver a "situação empresarial das revistas, a permanência, na escola, na família e nos meios de comunicação social, de concepções do senso comum da feminilidade" (p. 11). Tese de mestrado defendida na Universidade Aberta em 2002, Alice Marques procura entender a "compreensão global das representações das mulheres como o corpo e da beleza idealizada como obsessão que corrói as suas mentes e lhes suga uma boa parte dos salários".
Já Maria Helena Vilas-Boas e Alvim, mestre pela Universidade do Porto, pesquisou
Modas & Bordados, o suplemento de
O Século, entre 1912 e 1926. Ela optou, "em certos entrechos, por um carácter descritivo, que após sérias cogitações [lhe] surgiu como o mais adequado aos [seus] interesses: tentar perceber como a pequena burguesia ia absorvendo os ensinamentos veiculados pelo periódico" (p. 9). Vestuário e beleza foram os grandes conjuntos que procurou na publicação, desde elementos como calçado,
tailleur e sombrinhas até à confecção caseira e ao pronto-a-vestir, sem esquecer os cuidados com a beleza e a emergência de um novo ideário - a esbelteza.
Quanto a Ana Maria Costa Lopes, a sua tese de doutoramento defendida na Universidade Católica tem "como fontes [...] os materiais existentes nas publicações femininas de 1820 a 1890" (p. 27). O objectivo é "entender quais as ideias e as formas de a mulher se compreender a si própria e nas suas relações com o outro sexo" (p. 23). Nas conclusões, a autora considera que "deu conta das mudanças e continuidades no estatuto e imagens da mulher na sociedade oitocentista portuguesa, e tentou captar os inícios da sua emancipação e das ideologias que justificavam a manutenção das estruturas de dominação existentes" (p. 597).
Em todos os trabalhos há a predominância quanto a análise do discurso e menos de análise de conteúdo, aflorando num ou noutro caso elementos de biografias pessoais e de publicações. São trabalhos com diferenciações de qualidade final mas de igual importância para a compreensão de um fenómeno ainda pouco estudado: os periódicos e as revistas orientadas para a mulher. Se o texto de Ana Lopes aborda a questão fulcral da emancipação da mulher e do seu reconhecimento cívico e intelectual, sem sair da esfera privada, nos outros dois trabalhos estão em análise publicações com objectivos diferentes: o de Helena Alvim debruça-se sobre um tempo de conselhos e entrada da mulher nos assuntos da esfera pública, embora sob a capa de um título de revista mais conservador; o de Alice Marques, cujo âmbito se aproxima de nós, dá conta da mulher que consome e se preocupa com o corpo, ao mesmo tempo que procura conciliar uma vida profissional e familiar. Três tempos, três tipos de literatura, três modos da mulher se relacionar com a vida fora do lar.
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