Coisas e Coisas
ESCOLA CANADIANA DE COMUNICAÇÃO (III)Marshall McLuhan [continuação das mensagens de 19 e 20 de Junho e adaptado de Rogério Santos (1998).
Os novos media e o espaço público. Lisboa: Gradiva]
Na era das auto-estradas da informação, um dos mais famosos sociólogos dos anos 60, Herbert Marshall McLuhan, converteu-se em profeta dos tempos vindouros. Antigo professor de literatura inglesa, McLuhan notabilizou-se por livros como
A galáxia Gutenberg e
Understanding media.
Em
A galáxia de Gutenberg, examina a tecnologia mecânica que resultou do alfabeto e da máquina impressora (McLuhan, 1977: 371). O autor considera que a invenção da imprensa trouxe a fragmentação ao universo sensorial, com a estrutura visual a substituir a primitiva galáxia acústica e táctil. A imprensa multiplicou as informações visuais e submeteu o homem à organização linear de elementos discretos e uniformes. Estávamos na era de Gutenberg: os caracteres impressos no livro produzido em série originariam profundas transformações no homem e na sociedade saídas do séc. XVI, tais como o nacionalismo em política, a perspectiva na pintura renascentista, a substituição da poesia pela prosa na literatura, o individualismo no usufruto da cultura, a uniformidade e repetitibilidade (McLuhan, 1977: 161; McLuhan, 1979: 197).
Projectava-se a ideia de cadeia de montagem, mesmo antes da revolução industrial. McLuhan regista a dissolução da galáxia Gutenberg em 1905, com a descoberta da curvatura do espaço (1977: 340). Aparece uma nova galáxia, a de Marconi, e vislumbra-se a hipótese de fim da hipertrofia visual em benefício de um novo equilíbrio sensorial. Se as sociedades fechadas dependiam da palavra, do tambor e de outros media auditivos, a idade da electrónica anunciava a nova forma de tribo, a aldeia global.
No outro dos seus livros,
Understanding media, McLuhan considera que os media são extensões dos sentidos do homem e das suas funções: a roda como extensão do pé, a escrita como extensão da vista, o vestuário como extensão da pele, os circuitos eléctricos como extensão do sistema nervoso central (1979: 390). Ainda não era o computador, mas ele estava próximo de se tornar um elemento massificado.
Media quentes e media friosMcLuhan defendia que os media alteram a relação do homem com o seu meio envolvente. Na televisão, por exemplo, não interessa tanto o programa em si mas o modo de recepção, totalmente diferente de outros modos (como o livro, a escola ou o museu). Daí a sua metáfora: o meio é a mensagem, a relação do receptor com o referente.
Para ele, os media electrónicos dividem-se em quentes e frios – quanto maior for o número de elementos de informação numa mensagem e mais densa a substância informacional, mais quente é a mensagem. Assim, um retrato é quente e uma caricatura é fria; uma fotografia e um filme são quentes e a imagem televisiva é fria (constituída de um número limitado de pontos). A "temperatura" da mensagem liga-se à participação do receptor: numa mensagem quente, o sentido é dado pelo emissor; numa mensagem fria, o sentido é dado pelo receptor que está implicado na comunicação.
O livro
Understanding media construiu-se em torno da electricidade, tecnologia não centralizada, mas descentralizada [há, aqui, uma forte influência de Harold Innis, que trabalhei recentemente], garantindo a flexibilidade de múltiplos centros (como seria, nos nossos tempos, a internet). A iluminação enquanto extensão da energia é um exemplo de como as extensões alteram a percepção. Com a tecnologia eléctrica, o homem prolonga, ou projecta para fora de si mesmo, um modelo do próprio sistema nervoso central. Devido à sua acção de prolongar o sistema nervoso central, a tecnologia eléctrica parece favorecer a palavra falada e participativa, e promover os usos do telefone, da rádio e da televisão.
A filosofia de McLuhan é optimista. Escritos nos anos 60, uma época de expansão e afirmação da cultura de origem anglo-saxónica, os seus livros marcariam uma geração mas caíram no limbo do esquecimento nos anos seguintes. Com o crescimento das tecnologias de informação, o seu nome era recuperado e a sua leitura procurada de novo.
Leituras: McLuhan, Marshall (1977).
A galáxia Gutenberg. S. Paulo: Companhia Editora Nacional
McLuhan, Marshall (1979).
Os meios de comunicação como extensões do homem. S. Paulo: Cultrix
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