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TVI: A HISTÓRIA DA SEMANA

"Graças aos reality shows, à informação, e à programação em língua portuguesa produzida em Portugal e com actores portugueses", a TVI "conseguiu numerosos feitos históricos", lê-se na carta de João Van Zeller, ontem publicada no Expresso, e onde se dá conta da demissão daquele administrador da TVI.

Dos feitos, destaca Van Zeller: produtividade (share comercial estabilizado 20% acima do share de audiências) e criação e enriquecimento de emprego. Das razões da demissão: a entrada da Prisa no capital da TVI e do grupo de media em torno da televisão. Ele explica ainda na carta: "é incontestável que Miguel Pais do Amaral executou uma operação empresarial genial, oportuníssima, e de correcta visão estratégica". Para além do lucro, a evidente consolidação da empresa. Contudo, Van Zeller não concorda, porque a venda da TVI aos espanhóis significa (ou pode significar) uma perda "na vertente da defesa da nossa identidade e soberania nacional, no contexto do «quarto poder».

Desde há uns tempos a esta parte a TVI tem sido notícia. Primeiro, por causa da saída de Marcelo Rebelo de Sousa, presumivelmente pressionado para não continuar a criticar o governo de então. Agora, por causa da venda de parte do capital da Media Capital à Prisa, editora do jornal El Pais. Semanas antes, também se especulara sobre a tomada de capital por parte da RTL (na carta de Van Zeller considerado um accionista de referência. Curiosamente: o "barulho" feito contra as decisões da TVI parte do principal partido da oposição, que entretanto mudaram de posição.

A TVI - criadora de produtos culturais de sucesso, como as séries e os reality shows, como elenca a carta do administrador agora demissionário - torna-se ela própria enredo de novela. Sem ir para além do que me é permitido observar, a partir da leitura de jornais (e por isso o meu contributo para o esclarecimento da questão é nulo), medito em duas expressões de Van Zeller: 1) o negócio, do ponto de vista empresarial, foi bom, 2) mas, do ponto de vista político, foi mau, pois representa a venda aos espanhóis de um "porta-aviões do quarto poder" (como se lê na carta). E também reflicto na seguinte parte da sua carta: "A Media Capital, com a eventual concretização do novo accionista, vai agora estar em melhor posição para conseguir o acesso aos negócios bloqueados pela conjuntura política anterior. Falo dos canais de cabo, da TV digital e da banda larga".

Perguntas: a obtenção de lucro não é o que um empresário procura? E se foi vendido a Espanha, e se diz que é mau, porque se diz que é bom quando se compra no Brasil - caso da PT ? A circulação de capitais tem sinal verde ou vermelho conforme o sentido que se quer dar? E se o governo anterior falou (embora com dificuldades, e que custou a queda de um ministro e, depois, do governo, em sessões rocambolescas sucessivas), não pode este dizer que nada tem a ver com o negócio? Ou que tem? Ou que o governo controla uma empresa privada? E que conjuntura política anterior desfavorável era essa? E a presente conjuntura política já permite os negócios? Em que ficamos?



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